O que se sabe hoje sobre as doenças psicossomáticas (psico = alma e soma = corpo)? O que a ciência fala sobre elas? Em primeiro lugar não se vê o homem como ser humano. Ele virou uma máquina computadorizada, com circuitos químicos de sódio, potássio, serotonina, adrenalina, etc., embutido no poderoso e misterioso cérebro. Não se vê mais a atuação da psiquê (alma) no corpo. Aliás, nem psiquê existe hoje em dia. Tudo é matéria. E, em segundo lugar, como fica o tratamento? Apenas reflete esse modo mecanicista de ver o ser humano: um conserto que se impõe a uma máquina. Nesse sentido os efeitos colaterais fazem parte dos melhores medicamentos. Assim foi descoberto, em 1864, por von Baeyer, o barbitúrico (associação do ácido malônico com uréia). É um tranqüilizante ou ansiolítico, capaz de aliviar os estados de ansiedade e tensões. Depois vieram os outros anti-depressivos, com atuações variadas, no sentido de controlar os sintomas da depressão. Ou seja, todos são entorpecentes ou anestésicos. A fluoxetina, por exemplo, como diz a “bula”, evita a recaptação da serotonina e com isso leva à permanência dessa substância mais tempo em atividade nos tecidos corporais. Mas a sua fórmula química mostra outra realidade: em uma extremidade contém Nitrogênio (N), que excita o cérebro e na outra extremidade, que é mais poderosa, inibe o nervo, pois possui 2 moléculas de benzeno e 3 de Flúor (F). Portanto o lado inibidor é mais potente. Portanto a sua ação bioquímica mostra o contrário do que se afirma. Por isso estudos recentes realizados na Suécia demonstram que o uso excessivo da fluoxetina pode levar à falta da serotonina a nível cerebral / corporal. Ou seja, “o buraco pode ficar mais fundo do que se entrou”. Por isso não se pode contentar com atitudes paliativas sintomáticas. Deve-se buscar sempre o “tratamento fenomenológico”, para a cura real (e não semi-cura).
Para isso é preciso entender que “quem mexe o corpo é a alma” (Aristóteles, De Anima) e a alma (ou psique) é subdividida em três partes: logistikón, timokratikón e epitimetikón (Platão, Rep.). Ou, segundo a Psicologia, em: consciente, subconsciente e inconsciente; ou ego, sentimento e id; ou pensar, sentir e atuar. A alma é una, mas trina. Ela é uma só, mas se subdivide em três. Como um corpo com três membros, cada parte tendo uma missão. Por isso se diz trimembrada: A parte superior centrada na cabeça (ou ego) tem a ver com os pensamentos triviais do dia-a-dia; a parte média centrada no coração tem a ver com os sentimentos e a parte inferior (id ou libido) centrada no abdômen tem a ver com os movimentos corporais e também com os instintos (comida e sexualidade). Além disso, por detrás da alma existe o espírito, como centralizador do conjunto psico-somático (alma no corpo). Segundo Platão e Aristóteles, o “espírito é exterior e enraizado na alma; ele vem de fora”. Ou seja, o espírito, o Eu (self), vem de fora e se imiscui (penetra) na alma, porque nasceu depois da alma. Este exemplo poderá clarear melhor: uma luva não mexe (corpo físico), mas na mão (alma), adquire vida. Mas por detrás do conjunto “luva na mão” (corpo e alma), existe a cabeça (espírito), que orienta os movimentos. Por isso o símbolo da medicina tem a “serpente”, como representante da alma (inclusive a palavra alma tem a mesmo origem etimológica de animal, animus, anima) e está presa no “bastão”, representante do espírito, pelas três partes citadas acima (pela cabeça, meio e rabo). Por isso os gregos diziam que o homem possui “corpo, psykhé e Noûs”; ou como os psicólogos dizem: corpo, psique e Self; ou falando claramente: corpo, alma e espírito.
Para a antiga medicina grega, a “melancolia” (depressão) se manifesta na incapacidade de a alma permear o metabolismo hépato-biliar (fígado-vesícula). Por isso a “bile fica preta” (melan=preto e cole=bile). Ou seja, um sofrimento anímico (da alma) prolongado, leva à retração (desencaixe, saída ou dessomatização) da alma da esfera bíleo-digestiva; em decorrência disso ela se recolhe em si mesma e engancha (somatiza) na esfera superior do corpo. Ocorrem dois problemas: a digestão fica morosa, lenta (dessomatização), o que pode levar a longo prazo à gastrite, úlcera, colite, diverticulite e câncer. E, na parte superior do corpo, leva à “somatizações”: no coração (taquicardia, hipertensão), no pulmão (dispnéia emotiva), na cabeça (labirintite, cefaléia, enxaqueca, etc.), nos músculos (contraturas, rubor facial, fibromialgia, etc.).
Como entender melhor usando a linguagem atual? A alma apreende os estímulos periféricos através dos “nervos aferentes” (estes sobem da periferia do corpo ao cérebro), cuja finalidade é o arrazoamento (compreensão) pelo espírito. Este redireciona a resposta ao músculo, via alma, através dos “nervos eferentes” (estes descem do cérebro ao músculo), para a execução do gesto ou do movimento corporal. A alma sempre é causadora do impulso motor, através da “placa motora”. Por isso não existe nervo motor, apenas nervos sensitivos (aferente e eferente). A alma é que gera o movimento (De Anima, Aristóteles), como se afirmou. E por detrás vige o espírito.
Como a vida é cada vez mais estressante, a hipertrofia do ego (do pensar trivial) tem levado o ser humano a desejar mais poder, domínio sobre a natureza e sobre os outros. Estes são os fatores desencadeantes das doenças psicossomáticas. Mas como ocorre? Quando o ego fica encastelado na cabeça, não permeia a esfera inferior da alma. Esta parte se solta um pouco do corpo, do abdômen, e se projeta para fora. Por isso se diz que a pessoa está “ansiosa, agitada, preocupada ou nervosa” (não consegue dominar o impulso instintivo, pois vem de baixo, do inconsciente). Se esse desencaixe (saída) da alma se processa a nível do coração, irá provocar “depressão”. Por isso o paciente deprimido coloca a mão sobre o peito e diz que sente “um vazio no coração”. E se esse desencaixe (saída) da alma se processa a nível da cabeça (ego), irá manifestar a “síndrome do pânico”. Portanto, os três quadros psicossomáticos (ansiedade, depressão e pânico) correspondem às saídas parciais das distintas partes da alma das três esferas do corpo = do abdômen (ansiedade), do coração (depressão) e da cabeça (pânico).
Só que não se têm apenas esses três quadros psicossomáticos. Estão ocorrendo dois fenômenos distintos, em cada um dos pólos destas psicopatologias (na cabeça e no abdômen), com suas duas repercussões. Se a ansiedade não é sanada, a parte da alma inferior se projetará mais pra fora como “raiva, ódio, ira” (afinal aí se encontram os instintos animalescos da alma). Portanto, a “ansiedade” é um pulo para a “raiva ou ódio”. Denomina-se de “síndrome da agressividade”, cada vez mais comum nos dias atuais. Se acontece o contrário e a “raiva” é reprimida e introjetada (engolir problemas, mágoas), essa parte inferior da alma irá “somatizar-se” na esfera do meio (coração e pulmão), gerando “opressão” (e não depressão). Por isso ocorrem duas manifestações clássicas: hipertensão, taquicardia e arritmia (no coração) e dispnéia emotiva (no pulmão).
No outro pólo, se a alma centrada na cabeça se solta, extrapolando o “pânico”, chega-se ao desmaio e/ou ausência ou finalmente à Psicose (Esquizofrenia = “mente dividida”). Nesse sentido, o pânico seria uma tentativa frustrada para evitar a ausência ou a psicose. O que o espírito faz para se defender dessa fase derradeira? Projeta a alma (ego) de volta para o corpo, de cima para baixo, mas engancha de uma forma anômala, “somatizando” erroneamente em alguns órgãos, como coração, pulmão, etc., gerando “manias”. Esse quadro é denominado de “TOC” (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Por isso é que ocorrem gestos repetitivos (manias), numa forma desesperada de desenganchar a alma erroneamente presa nos órgãos.
Com relação à terapia da “ansiedade” e da “depressão”, precisa-se, em primeiro lugar, ativar o metabolismo, com remédios para a digestão, pois assim a alma é repuxada para essa esfera inferior do corpo. Mas só isso não resolve, pois essa parte instintiva, animalesca, é rebelde e difícil de ser domada (assim dizia Platão). É preciso somar remédios antroposóficos ansiolíticos (estes dão tarefa para a alma permanecer nessa esfera de baixo do corpo). Em segundo lugar, é preciso “prender” a alma nessa esfera, com ginástica (euritmia, tai-chi-chuan, etc). Em terceiro lugar, é preciso o trabalho do próprio indivíduo sobre si mesmo, através do Eu. Somente pelo fortalecimento do “espírito”, com pensamentos edificantes e direcionados para ideais nobres e metas objetivas na vida, pode-se controlar essas psicopatologias. E, em quarto lugar, a leitura de livros antroposóficos torna-se condição fundamental para o crescimento espiritual. Na “síndrome do pânico” é preciso ser mais agressivo na conduta terapêutica. Além dos procedimentos anteriores, acrescenta-se a apiterapia (picada de abelha) no abdômen. O veneno da abelha (apitoxina = ácidos fórmico, clorídrico e ortofosfórico, além de histamina, colina, triptofano, enxofre, fosfato de magnésio, cobre, cálcio, etc; e enzimas: fosfolipases, hialuronidases, etc.), funciona como uma vacina, pois puxa energicamente a psique para o abdômen.
Para os tratamentos do: TOC (manias), Opressão (hipertensão), Ausência, Desmaio e Psicose, não serão abordados neste artigo. Somente para esclarecimento, os dois primeiros casos têm a ver com somatizações profundas (o primeiro de cima para baixo = manias e o segundo de baixo para cima = hipertensão). A Ausência (mental) mostra a falta de consciência na crise (ausência da alma superior = ego), mas continua executando algum gesto (segurando uma xícara, por exemplo). O Desmaio já aponta para a saída do espírito e da alma, pois há perda da consciência e dos gestos corporais. Na Psicose, a situação muda radicalmente. Nesse caso a substância corporal mostra-se incapaz de segurar o espírito (e parcialmente a alma) dentro do corpo. Isso ocorre porque o espírito não imprimiu sua característica na materialidade por ocasião da sua formação intra-útero. Isso decorre de vários fatores espirituais e o principal é o medo de encarnar. Em decorrência disso os órgãos responsáveis para tornar as proteínas como próprias, não fazem direito essa função. São fabricadas proteínas anômalas e são justamente estas, por causa da presença de Nitrogênio na sua fórmula, que não conseguem segurar a alma dentro do corpo. Isso pode ser melhor observado no uso experimental da diálise sangüínea durante a crise psicótica: simplesmente o paciente sai da crise (por causa da depuração do sangue das frações protéicas deformadas). O tratamento teria que passar pela reestruturação dos órgãos responsáveis pela fabricação protéica.
Como se está vendo, estas psicopatologias não têm a ver primariamente com a cabeça (consciente). O ser humano é muito complexo e como não se consegue visualizar os fatores causais, é preciso compreendê-lo na sua fenomenologia, a partir do que foi aqui apresentado. E fenomenologia entende-se como a conjugação espírito e matéria ou alma e corpo; ou simplesmente Psicossomática. A isso Aristóteles deu o nome de “realidade”. Nesse sentido a equipe multidisciplinar de médicos, psicólogos e terapeutas artísticos, desta Clínica, utilizam o Diagnóstico Psicossomático por meio da Pintura, como recurso para desenvolver hipóteses dedutivas de como a alma permeia o corpo e como ajudar o paciente a superar seu mal. No fundo, toda doença é um processo de iniciação espiritual errado. Inclusive essas psicopatologias mostram o processo de se desligar do corpo, seja pela saudade do mundo espiritual pré-natal ou de épocas anteriores de vida, ou não vê futuro no seu caminho atual de vida. Faz então, uma retração anímica (ensimesmar-se), no sentido de buscar consciência reflexiva. Não deixa de ser um caminho necessário, para auto-cura anímica, pois somente através “das doenças e do mal” consegue-se evoluir.
Peça ao seu médico antroposófico mais informações a respeito.
Dr. Antonio Marques