“Drª Ita Wegman tem coragem de curar. A coragem de curar é tão necessária como o conhecimento terapêutico; essa coragem não dá origem a um otimismo nebuloso, fantástico, na cura, mas gera um otimismo bem fundamentado que dá segurança, e graças ao qual podemos dizer: aqui temos um caso de doença, o compreendemos, tentamos cura-lo e fazemos todo o possível. Porém, quando se busca esta segurança interior, é necessário ter a coragem de compreender a entidade humana e a natureza em seu fluxo”. Steiner (O Conhecimento Antroposófico do Ser Humano, São Paulo: João de Barro, 2019, p.210).
Ela dizia que o médico antroposófico não pode se eximir de enfrentar doenças difíceis; ele deve dividir o ônus das patologias graves ao lado do leito do paciente junto com a medicina acadêmica.
E sua sentença mais enigmática: “temos que salvar o que está fadado ao abismo”. Isso nos remete ao ano 666 d.C, na Universidade de Gundishapur (Grande Monarca Pur), na antiga Pérsia (hoje Irã), quando os originais de Aristóteles foram traduzidos ao árabe, com nítido propósito de retirar os conteúdos espirituais, para focalizar somente na materialidade. Dessa maneira o sagrado foi expulso da medicina.
Assim a ciência tornou-se “nominalista”, que sabe nomear, mas não entende como os fenômenos se manifestam. Adquiriu grande poder, impondo um modo de pensar hegemônico: “o quê eu posso pensar? O quê eu tenho direito de esperar?”, pergunta Kant. Resposta: somente o que a ciência determina. Apenas obedeça e seja politicamente correto.
Temos que desenvolver a “coragem de curar” na nossa comunidade terapêutica, ter a “coragem para entender” os fenômenos do ser humano e da natureza, para ter “coragem para salvar” a humanidade do abismo.
Dr Antonio Marques
