A alergia é a incapacidade de o organismo lidar com certas substâncias ou elementos naturais, como clima, poeira, alimentos, etc. O prefixo “a” significa “não”. Portanto: “a+lergia” = “não reação”. Ou seja, é a psiquê (ou a alma) que não consegue permear totalmente a substancialidade, tornando-a estranha ao organismo. Muitas vezes a pessoa chamada “alérgica” é, no fundo, “hiperérgica”: ela se manifesta com uma “hiper reação”. Isso se explica assim: quando o organismo não consegue “metabolizar” uma “agressão” (poeira, ácaro, substância química, friagem, umidade,… até algum fator de origem “psicológica”) de uma forma fisiológica, normal, ele lança mão de um recurso extremo, a hiperergia. Pode ocorrer o contrário, quando a pessoa não reage, o que se pode denominar de “anergia”. No entanto essas formas polares foram reduzidas e ficaram consagradas apenas com o nome de alergia.
Pretende-se com este artigo ampliar essa visão. Para isso é preciso abordar os cinco fatores causais da “alergia”, nesta ordem:
1) herança
2) mucosa fraca
3) imunidade baixa
4) metabolismo alterado
5) meio ambiente
A herança em si não é tratada; apenas constata-se a sua manifestação familiar. Em decorrência disso, encontra-se a mucosa enfraquecida, com perda da sua seletividade natural Como se sabe, a “secreção” que “atapeta” (que forra) a mucosa (principalmente a brônquica) é rica em mucina, glicoproteínas, globulinas (anticorpos IgA) e sais minerais. Esses elementos funcionam como agentes protetores da mucosa. No entanto, nas pessoas “alérgicas”, ocorre uma carência desses elementos citados. Isso contribui para a irritação da mucosa e muita formação de secreção (pelas células caliciformes). Com o passar do tempo ocorre perda da proteção seromucosa, ressecamento da mucosa brônquica e desnudamento da parede fibrocartilaginosa (transforma-se em processo crônico). Tem-se observado que, como uso indiscriminado de antibióticos, a secreção brônquica sofre ressecamento e endurecimento dentro dos brônquios, havendo até casos de cristalização desses sais minerais, com sérios danos à fisiologia respiratória (bronquite crônica). O mesmo se pode dizer a respeito do uso de soro fisiológico nas nebulizações: induz ao processo de cristalização de sais minerais, por ser ele próprio composto de “água e sais minerais”, com igual dano à fisiologia respiratória. No entanto, o soro fisiológico é indicado para “lavar” as narinas. Também o decréscimo das doenças febris tem contribuído para aumentar os casos de pacientes com debilidade defensiva (anergia). Isso tem ocorrido por causa do uso indiscriminado de antitérmicos, antinflamatórios e antibióticos: ao menor sinal de uma resposta orgânica benéfica (febre), esses remédios transformam a fase da doença, de aguda em crônica. Com relação à imunidade, mediante um decréscimo de anticorpos (IgA e IgG), ocorre simultaneamente uma elevação de IgE (resposta alérgica). Isso funciona como um “sistema de gangorra” (desce um, sobe outro). Significa que o corpo lança mão, em primeiro lugar, dos anticorpos, como primeiro sistema de defesa. Caso não consiga o seu objetivo, as IgEs são ativadas como um recurso último, desesperador, de reação a uma agressão externa. Por isso a alergia está ligada diretamente à defesa baixa. Com relação ao metabolismo, caso não ocorra metabolismo do carboidrato (até glicose e água), este irá ser decomposto pela flora intestinal em gases e álcool (dispepsia fermentativa). Caso não ocorra metabolismo da proteína (até aminoácido), esta irá ser decomposta pela flora intestinal em catabólicos nitrogenados tóxicos (dispepsia putrefativa). O meio ambiente corresponde ao último elemento causal. Ele em si não deve ser muito valorizado, pois se observa que, apesar de as mães manterem os quartos das crianças “assépticos” (parecendo quarto de hospital), mesmo assim elas desenvolvem alergia, bronquite, etc. Procura-se, no entanto, orientar as mães sobre os cuidados térmicos, evitando deixá-las desagasalhadas ou descalças no clima frio, sobre o uso de bebidas geladas; sobre a limpeza da casa, etc. Com relação à cortina e aos brinquedos de pelúcia, não há necessidade de remove-los, uma vez que não se pode deixar os quartos das crianças totalmente desprovidos de “enfeites”, por causa de seu lado anímico e espiritual.
Após este preâmbulo, precisa-se entender sobre os órgãos que compõem o sistema rítmico (pulmão e coração). Também será preciso esclarecer as diferenças básicas entre bronquite e asma. Muitas vezes o paciente chega à Clínica com os dois quadros misturados, o que se denomina de “bronquite-asmática”, mas são duas personalidades nosológicas distintas. Vamos começar com um fato (estatístico) concreto, realizado nesta Clínica. Entre os pacientes com “bronquite-asmática”, 93% dos casos são de bronquite e 7% de asma. Por que essa diferença? Isso tem a ver com a origem embriológica do pulmão. Este se origina do “endoderma”, o mais interno dos folhetos embrionários. Basicamente o pulmão se origina do “intestino primitivo” (e nos peixes, ele permanece como vesícula natatória). Pode- se dizer que o pulmão “sobe” do intestino em direção à caixa torácica. E o coração? Ele se origina do mesoderma e se situa acima da cabeça do embrião; por volta do 20º dia, com a curvatura embrional, “desce” para a caixa torácica. Portanto, o pulmão e o coração, estão situados no “meio do corpo”, na caixa torácica, e realizam aí a “função rítmica” do corpo humano: expiração e inspiração; sístole e diástole. Isso é o reflexo das duas tendências polares: na cabeça, sede do “sistema neurossensorial” (SNS) e de onde se origina o coração; e no abdômen, sede do “sistema metabólico” (SM) e de onde se origina o pulmão.
Os dois sistemas polares assumem morfo-fisiologicamente processos opostos. Uma exacerbação de suas funções peculiares pode levar a “dinâmicas patológicas” para o resto do corpo: O excesso de atividade neurossensorial pode desencadear um processo patológico “estressante, esclerosante” para o corpo (taquicardia emotiva, enfarte, asma, etc.), ou o contrário, uma hipertrofia da dinâmica metabólica, pode desenvolver um processo “inflamatório” para o resto do corpo. (insuficiência cardíaca, sinusite, amigdalite, bronquite, etc.). Portanto o pulmão e o coração, por si só, são órgãos saudáveis. Ou seja, são os representantes da saúde. As duas tendências patológicas nascem das regiões polares do corpo humano: SNS (na cabeça) e SM (no abdômen). Nesse caso, o pulmão só vem a apresentar uma patologia secundariamente, ou seja, a “causa” deve ser procurada numa dessas esferas: SNS ou SM.
Só para comparação, no coração se manifesta a maior tendência à taquicardia, angina e enfarto (devido a sua origem do pólo “neurossensorial”) e menor incidência “inflamatória”. Assim sendo deve-se entender a tendência “inflamatória” que invade o pulmão como a que ocorre também nas bronquites pós-gripe, pós-rinite, pós sinusite, pós-amigdalite ou pós-faringite, como comumente se vê. Mas de onde vem esse distúrbio nos seios da face e na região rino-faríngea? A “causa” está na esfera metabólica, como se comentou. Tanto a dispepsia fermentativa como a putrefativa formam substâncias tóxicas (não fisiológicas) que irritam a mucosa intestinal. Este mecanismo alterado faz com que estes catabólitos (ou frações destes) sejam absorvidos erroneamente, provocando várias patologias a distância (inclusive hipersecreção na mucosa aérea). Esses casos são bem conhecidos como bronquites por erro metabólico, alergias metabólicas, ou “alergias alimentares” (intolerância ao leite, glúten,por exemplo). Geralmente os pacientes adentram o consultório com o quadro alérgico clássico: tosse produtiva ou seca, às vezes coriza, espirros, etc. A ausculta pulmonar: roncos e/ou sibilos. Muitas vezes, nas primeiras consultas, se observa a mistura de ambas as formas (bronquite-asmática), mas, com o tratamento antroposófico realizado nesta Clínica, pode-se caracterizar essas duas formas distintamente: Em 93% dos casos melhoram rapidamente (é a bronquite) e, nos casos de difícil remissão, pode-se aventar a hipótese da asma. Mas, para firmar o diagnóstico da “asma”, estes autores recorreram a um exame inédito neste campo: a cintilografia pulmonar perfusional. Nesse caso, os pacientes “graves” (7% dos casos) apresentavam “déficit perfusional pulmonar”. Os autores resolveram denominar estes casos, diagnosticados pela cintilografia, de “asma intrínseca vasoconstritiva” (AIV). Exigiu-se também uma conduta terapêutica inédita, justamente para atuar nesse caso “vasoconstritivo”, pois, como se sabe, as medidas broncodilatadoras clássicas são paralelamente (seus efeitos colaterais) “vasoconstritivas”. Ou seja, pioram a longo prazo a asma (a AIV). Mas por que afinal, os broncodilatadores pioram, a longo prazo, o quadro vasoconstrivo pulmonar (a asma)? Sabe-se que nos brônquios predominam os receptores Beta-2 (responsáveis pelo “relaxamento” brônquico) e no coração (e nos vasos sanguíneos, inclusive os de dentro dos pulmões) prevalecem os receptores Beta-1 (responsáveis pela “contração” dos vasos sanguíneos). Ocorre o seguinte: os broncodilatadores retiram o “espasmo” dos brônquios e o canaliza à esfera cardíaca (provoca taquicardia). O que o remédio fez foi apenas derivar o problema de um lado para outro. No fundo, ele não resolve a “causa”; apenas transfere o “espasmo anímico” para o coração. Ex.: A aminofilina, conforme mostra a sua fórmula química, é primariamente um ótimo cardiotônico e secundariamente um broncodilatador (por causa disso ela retira o “espasmo” do pulmão e centraliza no coração). Mas se acostumou a valorizar o seu efeito colateral broncodilatador. No entanto os broncodilatadores continuam sendo imprescindíveis em crises de “bronquite-asmáticas” e eles são utilizados sempre que necessário.
Como se deve realizar um tratamento causal? No caso da bronquite (já foi comentado), visa-se: fortificar a mucosa, aumentar os anticorpos e ajudar o metabolismo. No caso da asma, o tratamento é mais complicado. Visa-se retirar a “alma” da esfera pulmonar e canaliza- la ao metabolismo, com as condutas: medicamentos vasodilatadores naturais, medicamentos para o metabolismo, fisioterapia respiratória, psicoterapia, exercícios físicos, euritmia, musicoterapia (flauta, etc.), banhos medicinais, massagem rítmica, enfaixamentos e deslizamentos.
Dr. Antonio Marques, clínico geral
Drª Carla Antunes, pneumologista