Artrite Reumatóide tem cura

RESUMO: Normalmente o paciente com Artrite Reumatóide (AR) carrega consigo a sina de “doença sem cura”, para a qual não precisaria nem mais procurar outra forma terapêutica. Essa visão ocorre porque não se objetiva a “cura” com os recursos habituais. Estes apenas “seguram” a doença. Não resta dúvida, no entanto, de que eles, em muitos casos são imprescindíveis. Pretende-se, neste artigo, levantar os argumentos “causais”, através de dados científicos comprobatórios, no sentido de se tecer os “pensamentos interativos” necessários (através da metodologia científica dedutiva goethiana)1 para justificar o tratamento antroposófico2 aqui preconizado, de uso corrente nesta Clínica, há mais de 35 anos, com excelentes resultados (90% a 95% de êxito).

UNITERMOS: Artrite reumatóide, A.R., doença auto-imune, medicina antroposófica.

“A AR é um evento de mediação imunológica”.3 Esse termo descreve uma enfermidade mediada pela deposição de “imunocomplexos” (complexo imunológico) nas articulações. O que são esses imunocomplexos? São substâncias químicas, geralmente “proteínas estranhas” (de origem do próprio corpo ou vindas de processos infecciosos) que desencadeiam a reação “imunológica” chamada antígeno-anticorpo (Ag-Ac). Ou seja, a substância estranha, ao entrar no corpo, gera uma resposta deste contra o agente agressor. Por isso se denomina de “antígeno” o elemento estranho e a resposta do corpo de “anticorpo”. Só que, no caso da AR, a proteína vem do próprio paciente e torna-se estranha (antígeno-Ag) numa certa fase da vida. Por isso AR é considerada uma doença auto-imune. Outras doenças deste grupo, mas que depositam os “imunocomplexos” em outros órgãos, são: vasculite (nos vasos sangüíneos), glomerulonefrite (nos rins), pericardite (no coração), etc. Por isso essa “reação Ag-Ac” (ou imunocomplexo) é conhecida também como “doença auto-agressiva ou auto-imune” (o próprio corpo combate a si próprio). Como se pode entender melhor isso?

FISIOLOGIA:

Todo ser humano recebe dos pais uma herança, um corpo físico. Só que não se tem apenas corpo físico, mas se é principalmente um ser espiritual e psíquico.4 Ou seja, o corpo, ao nascer, deve ser colocado dentro das diretrizes traçadas pelo Eu e pela alma. Esse processo de incorporar a substancialidade para dentro dessa direção superior leva vários anos, toda a infância e a adolescência. Isso é tão verdadeiro que basta reparar a proteína, o motivo de toda essa complicação. Ela se compõe de carbono, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio, mas todo ser humano tem um “tipo” individual de proteína. Ou seja, cada um imprime na proteína herdada o seu carimbo pessoal, o seu Eu (a sua essência), como uma impressão digital.

FISIOPATOLOGIA:

Acontece, então, o seguinte: Certas pessoas (3 vezes mais nas mulheres do que nos homens) não imprimem, dentro da materialidade, a sua individualidade; isto é, não tornam a proteína herdada sua propriedade. O tempo vai passando e o corpo vai crescendo. Aquela proteína começa a se tornar estranha, pois não se torna mais reconhecida pelo sistema de vigilância imunológico. Ela vai se transformando em “antígeno”. Numa certa época, os anticorpos estranham aquela proteína velha, que não foi transformada. Esse processo é geralmente desencadeado por uma crise ou trauma emocional (ocasião em que a alma e o Eu se retraem ligeiramente da ligação com o corpo. Isso faz com que aquela proteína seja abandonada à sua própria sorte e não mais se torne reconhecida como sendo do próprio corpo. Por isso é que, num susto forte, ou numa situação de grande tensão, sente-se um “frio na barriga”, uma taquicardia emotiva ou um rubor na face). Acontece o seguinte: Dentro do sangue começa a ocorrer uma “briga” entre os “anticorpos” e essas “proteínas velhas” (reação Ag-Ac). Esse imunocomplexo formado acaba se depositando nas articulações, principalmente nas mãos, e ativa outras substâncias e células do processo inflamatório (proteases, citocinas, proteínas do complemento, neutrófilos, linfócitos, monócitos, células T CD4, imunoglobulinas, etc). Ocorre então uma sinovite articular persistente, com destruição da cartilagem e erosões ósseas5 e, subseqüentemente, deformidades articulares, as quais constituem a marca registrada da doença.

CLÍNICA:

A doença normalmente tem um início lento, com fraqueza, desânimo e dores articulares nas pequenas articulações. Estas ficam quentes, devido ao processo inflamatório localizado. O que significa isso? Ocorre que, como aquelas proteínas não foram destruídas ou transformadas na época certa (na infância), o corpo lança mão de um recurso extremo e elas são praticamente “cozinhadas” nas articulações. Por isso a “febre” articular. Como se sabe, a “proteína velha” é facilmente desnaturada (destruída) pelo calor (febre).

Alguns critérios são importantes para diagnosticar a doença: rigidez matinal, artrite em duas ou mais articulações (principalmente nas mãos, bilateralmente), nódulos subcutâneos, o próprio exame de sangue como fator de acompanhamento da doença e a radiografia óssea.

EXAMES COMPLEMENTARES:

O exame de sangue6 para se constatar a doença (Látex) não é específico, pois pode se apresentar positivo em inúmeras outras patologias, mas é usado para confirmar o diagnóstico nos indivíduos com manifestação clínica sugestiva. A velocidade de hemossedimentação (VHS) elevada denota o grau do processo inflamatório e a Proteína C Reativa (PCR) positiva mostra a atividade da doença e a probabilidade de lesão articular progressiva.

TRATAMENTO:

O que se receita normalmente para a AR? Medicamentos contra a tentativa de o organismo debelar aquela proteína nociva, pois impede-se o sistema imunológico de atuar com eficácia. Para isso são utilizados os corticóides e alguns casos os imunossupressores. Esses remédios imobilizam o sistema imunológico e impedem a multiplicação celular. Ao invés de combater o antígeno-Ag, combate-se o anticorpo-Ac. Portanto é uma atitude não curativa, paliativa e sintomática, em que se preserva a doença ao invés de tentar a cura. Impõe-se ao doente a sina de viver com o “inimigo” dentro do próprio corpo a vida inteira.

O que se objetiva com o tratamento antroposófico,7 pelo menos o preconizado nesta Clínica? Realizar, na prática, o que se propõe na teoria. 1) Primeiramente combater diretamente a “proteína velha”, sistematicamente, através de estímulos imunológicos do próprio corpo. Com essa atitude, se impede a formação de imunocomplexos e, conseqüentemente, o processo inflamatório não se realiza (e vai se reduzindo lenta e naturalmente). 2) Em segundo lugar, procura-se “proteger” as articulações ofendidas, com substâncias naturais revitalizantes. Em casos mais graves, se associam os antiinflamatórios habituais, como tratamento sintomático paliativo. 3) Em terceiro lugar, procura-se fortificar o “egotismo” do paciente, com orientações psicoterápicas e espirituais, terapia artística, ginástica, hidroterapia, euritmia e fisioterapia.

CASOS CLÍNICOS:

Estes quatro casos clínicos servirão para ilustrar melhor, com boa resposta ao tratamento (90-95% dos casos).

1) T.M.V.P., 72 anos, sexo feminino, viúva, do lar. 1ª consulta em 24.4.98: AR há 6 anos. A 2a consulta em 17.8.98 (quatro meses depois), retorna com a queixa: “Piora das dores reumáticas”. O interessante é que a paciente havia se fixado na queixa maior (dor) e não percebeu que havia melhorado. Após visualizar o resultado do exame ficou mais confiante e parou de queixar. Isso mostra como a psiquê desses pacientes carece de auto-confiança. Manteve o tratamento na época e foi aconselhada a continuar com o uso de antiinflamatório, se precisasse. Melhorou totalmente e não retornou mais à consulta. Alta clínica.

Ex. 28.4.98Ex. 19.8.98
Látex (normal até 40)+/421Neg./40
V.H.S. (normal até 10)5520

2) M.C.S., 34 anos, sexo feminino, casada. 1ª consulta em 1.8.97: AR soro negativo. As dores reumáticas começaram em janeiro desse mesmo ano (sete meses antes). Após o tratamento antroposófico houve melhora considerável, mas ocorreu um interessante fenômeno: a positivação do Látex. Por que ocorreu isso? A “hipótese dedutiva” mais viável: Todo imunocomplexo que se alojava inicialmente nas articulações (por isso não se constatava nada no sangue examinado) sofreu uma “expulsão” para o sangue circulante, após estímulo imunogênico do tratamento antroposófico. Por isso o Látex positivou no exame de sangue. As dores foram diminuindo e hoje (última consulta em 19.7.99) sente-se curada. Alta clínica.

11.7.9728.8.9814.7.99
Látex (normal até 40) Neg.Neg.+/50
V.H.S.(normal até 10)805712

3) A.N.O., 57 anos, sexo feminino, casada, do lar. 1ª consulta em 28.5.98: AR há 16 anos. RX de 17.12.98, do joelho direito: lesões em “saca-bocados”. H.F. (história familiar) de imunidade baixa, como se vê na dosagem de leucócitos. Última consulta em 27.1.00, continua apenas com a dor no joelho direito (seqüela da lesão artrítica). Pode-se observar que o VHS foi aumentando, apesar de a resposta imunológica ter sido eficaz. Foi recomendada a continuar com a medicação oral e associar o anti-inflamatório quando precisar. O uso do Viscum injetável inicial na dosagem de 30%, caiu para a mais fraca, D4 e D3, apenas para funcionar como imuno-estimulante. Retornar após 8 meses, com novos exames.

18.5.987.1.9910.2.2000
Latex (normal até 40)+/640+/500Neg.
VHS (normal até 10)132242
Waller-Rose (n=40)+/256+/128Neg/32
Leucócitos3.7003.3003.000
FAN (normal até 20)+/320NegNeg.

4) S.R.A., 38 anos,sexo masculino, casado trabalhador rural de Urucaina, MG. 1ª consulta em 7.6.02: AR desde 1998 (há 4 anos). Primeiros tratamentos com cortisona RX das mãos em 23.8.00: lesões osteoarticulares nos punhos. Mãos e Joelho e muito inflamados, apresentando grande dificuldade para executar movimentos. E muita dor. Última consulta em 18.7.03: alta clínica (um ano de tratamento).

9.11.0211.2.022.7.03
Látex (normal até 40)+/384+/96Neg/20
PCR (normal até 6)+/96+/12Neg/6
V.II.S(normal até 10)?103

COMENTÁRIOS:

Após 36 anos de trabalho clínico, é possível tratar com eficácia a AR com medicamentos antroposóficos imuno-estimulantes. Os resultados comprobatórios estão aí: 90-95% dos casos tratados apresentam melhora significativa. Infelizmente este tratamento é utilizado como última tentativa pelo paciente, inclusive, muitas vezes, depois das deformações articulares.

O que se refuta é a conduta apenas paliativa e sintomática, sem uma base científica, como normalmente se vê na prática médica. As grandes descobertas científicas são hoje perdidas ou sub-aplicadas, por justamente faltarem os elementos interativos, que só a formulação pensamental (elaboração de hipóteses) pode fornecer. O que se evidenciou aqui foi a congruência entre o pensar médico-científico e a prática clínica. Isto tem a ver com o desenvolvimento da Ciência Dedutiva Goethiana, a que “adentra a fenomenologia” da doença. Assim se pode abraçar a conduta apenas sintomática (Ciência Indutiva), com o objetivo de desenvolver novos paradigmas científicos.

SUMMARY:

Rheumatoide Arthritis has cure!

Usually the patient with Rheumatoide Arthritis (AIR) carries the fact of “disease without cure”, for wich would be useless to seek another therapeutic form. This vision happens because the “cure” is not objectified with the habitual resources. Theses resources only seek to treat the symptoms of the disease. It doesn’t remain doubt, however, that them, in many cases are indispensable. The objective of this work is to lift the causal arguments, through scientific corrobative data, in the sense of weaving the necessary “interactive thougsts”(Goethe Deductive Science), to justify the anthroposophic treatment indicated here, of average use in this clinic for 35 years, with excellents results (90% – 95% of sucess).

KEY WORDS: Rheumatoide Arthritis, A.I.R., Autoimune disease, Anthroposophic treatment for Rheumatoide Arthritis.

NOTAS:

(1) GOETHE, Ensaios Científicos, São Paulo : Ad Verbrum e Barany, 2012.

(2) HUSEMANN, F. e WOLFF, O. A Imagem do Homem como base da arte médica, São Paulo : ABT/ABMA, 1987, v. III.

(3) HARRISON, Medicina Interna, 13 ed. México : Interamericana, 1995, v. 2, p.1727.

(4) MARQUES, A.J. Repensar a Ciência. Juiz de Fora : Rio Branco, 1996, p. 86.

(5) “As enzimas proteolíticas podem degradar localmente a cartilagem. Por fim as citocinas podem contribuir para a desmineralização local do osso através da ativação dos osteoclastos”. (HARRISON, 1995, p. 1729).

(6) Idem, p.1729-30.

(7) MARQUES, A.J. Prática Médica Antroposófica, medicina baseada em conhecimento, São Paulo : ABT / Ad Verbum, 2013, p.292.

Dr. Antonio Marques / Dr. Mikhael Marques

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