Prevenção Geriátrica Antroposófica

RESUMO: Este trabalho visa mostrar que o “tratamento geriátrico preventivo antroposófico” desenvolvido nesta Clínica contribui sobejamente para melhoria da qualidade de vida dos pacientes da terceira idade. Através de uma formulação antroposófica revitalizante, que tem como base a fenomenologia do envelhecimento orgânico, pretende-se atender à demanda do aumento da sobrevida humana na sociedade moderna. Objetiva-se assim amenizar e desacelerar a decrepitude orgânica, cujo resultado é a evidente melhora da qualidade de vida de todos pacientes submetidos a esta conduta preventiva.

UNITERMOS: Geriatria, medicamentos geriátricos antroposóficos, medicina antroposófica

  1. INTRODUÇÃO

Na Biografia Humana se imputa os 40 anos como o início da fase de decréscimo da vitalidade orgânica. Inclusive se nomeia de “crise dos 40”, como encruzilhada das curvas: “orgânica”, que se projeta para baixo e a “espiritual”, que aspira a ascendência. No entanto, devido à chamada “aceleração civilizatória”, como o próprio nome diz, não só houve progresso tecnicista, mas o ser humano acompanhou esse “aceleramento” observado em todas as atividades culturais humanas. Inclusive a fisiologia se remodelou para acompanhar esse decantado progresso. Isso se observa melhor na menopausa que, há alguns anos se falava que ocorria aos 40 e poucos anos; e hoje se constata após os 50 anos. Por isso se pode dizer que essa “encruzilhada” das curvas orgânica e espiritual foi arrastada para a idade dos 50 anos.

Nesse sentido justifica-se iniciar este “tratamento geriátrico preventivo antroposófico” a partir dessa idade, independente do sexo. Estes pacientes foram acompanhados por 10, 20 e 25 anos, constando-se que foram beneficiados com este conduta. Pode-se dizer que entraram numa fase de “estabilização clínica”, como se verá abaixo. Não significa que nunca mais terão doenças, mas estas serão pontuais. Ou seja, há uma melhora evidente e substancial da qualidade de vida. Mas isso só é possível com a “medicação causal antroposófica”, como proposta neste artigo.

  1. ARGUMENTAÇÃO EM DEFESA DA FORMULAÇÃO

Qual a vantagem de se usar formulações específicas para determinados quadros clínicos? Qual a vantagem dos “Protocolos Terapêuticos”? Esse termo, apesar de gerar pruridos em algumas mentes antroposóficas, não deve assustar aos ortodoxos. Isso parte do pressuposto de que existem fenômenos fisiológicos presentes na natureza como no ser humano, independentemente do lado espiritual, individual e anímico. Ou seja, por detrás de tudo existem fenômenos em que a vida se sustenta e se mantém. O modo de se manifestar é que toma colorido individual. No entanto não se deve imaginar uma fórmula pronta, como receita de bolo. O princípio que rege uma fórmula magistral ou protocolo terapêutico segue em primeiro lugar a fisiopatologia e a fenomenologia da doença; e em segundo lugar, deve ser alterada para casos individuais, como se comentará abaixo.

  1. ENVELHECIMENTO e VIDA ESPIRITUAL

Geralmente os pacientes que recorrem a esta Clínica não vêm em procura de conforto espiritual, mas da saúde perdida. O mesmo acontece para os pacientes geriátricos. Na consulta, no entanto, é enfatizado que o remédio representa o “alicerce” do corpo físico; não se deve fiar somente no medicamento, mas em si mesmo. Deve-se procurar ascender espiritualmente, firmar o espírito, como um “bastão ereto e vertical”, no sentido de galvanizar a alma, representada como “serpente”, a verdadeira causadora das doenças e dos pecados anímicos. Este símbolo da medicina traduz o esforço que se precisa empreender para adquirir saúde.

Outro símbolo: “a cobra formando um círculo mordendo o próprio rabo”, traduz o voltar-se contra si mesmo, na visão psicossomática do “ego mordendo o id” (o consciente contra o inconsciente): impotência, frustração, angústia, falta de ideal, depressão, etc. Se a cobra cravar o dente no seu rabo, manifesta-se a doença, a “somatização”. Isto se vê na velhice improdutiva, na esclerose decrepta, sem ideais espirituais.

Procura-se orientar estes pacientes, durante a consulta, além da medicação preconizada, em três vertentes:

  1. Conscientizar sobre a necessidade da retirada gradativa dos medicamentos entorpecentes, inibidores da química do pensar (benzodiazepínicos, antidepressivos, etc.) e dos entorpecentes digestivos (antiácidos, inibidores de enzimas, etc.), pois impedem, em várias instâncias, a psiquê de atuar no corpo.
  2. Com a anuência do especialista, se não for possível a retirada desses medicamentos, procurar a dosagem mínima, sempre somados com a medicação antroposófica causal.
  3. Estímulo para elevados princípios da Vida, através de encaminhamentos às Terapias Biográfica e Artística. Sugestões de leituras edificantes antroposóficas e exercícios físicos (hidroginástica, caminhada, etc.).
  4. ALIMENTAÇÃO na VELHICE

Apesar de não ser a tônica da consulta, procura-se orientar para alguns aspectos da alimentação. Em primeiro lugar, há a carência de “calor” por parte do organismo do idoso. Para isso se busca na “gordura”; só que esta em excesso pode bloquear a função metabólica. Deve-se optar pelos óleos vegetais: de girassol, de arroz e de milho. Manteiga e não margarina, pois esta, de fácil digestão, quase um “plástico”, deposita mais rápido nas artérias (a manteiga demora muito para ser digerida). Com relação aos cereais, o milho tem uma relação especial com o calor. Outros cereais são indicados como “granola”: cevada e aveia em flocos, de manhã com frutas e iogurte. Condimentos: Majorana, Basilicão, Thymian, da Família das Labiatas. No almoço sempre acompanhar os legumes e hortaliças quentes. Nunca tomar líquido durante o almoço, para não diluir o suco estomacal (só no domingo, dia de festa).

Em segundo lugar, com relação à Proteína, optar por produtos derivados do leite (principalmente o queijo minas ou frescal). Os cereais devem ser considerados o centro da alimentação. Procurar estimular a função intestinal com os grãos e fibras em geral. Para isso o pão sovado (sem fermento artificial) cumpre seu papel. Com relação ao açúcar, optar pelo mel, extrato de frutas, para adoçar. Em terceiro lugar, muitas vezes há a necessidade de encaminhar estes pacientes à Nutricionista ou à Nutróloga da Clínica, para adentrar em casos específicos.

  1. CASOS CLÍNICOS

Vão ser apresentados cinco casos clínicos geriátricos, que se submeteram à este tratamento prolongado, no sentido de visualizar como nossos pacientes se comportam:

  1. Clínica Tratamento por 27 anos – W.M.B.B. viúva, do lar, nascida em 11.3.29, três filhos, pneumonias de repetição na infância, tuberculose na juventude e bronquiectasia na vida adulta. Tratada nesta Clínica desde 17.11.81 (1ª consulta), com 52 anos na época e agora com 79 anos. A queixa básica eram as hemoptises freqüentes, durante anos. Melhorou muito com as injeções de Stibium praep., as quais eram aplicadas E.V. e subcutânea, dependendo da gravidade da ocasião.

Última consulta em 6.12.07, bem situada no tempo e espaço, sem queixas de hemoptise há anos. Última hemoptise em 1999 (após 18 anos de tratamento). Atualmente apresenta IRC (insuficiência renal crônica) e anemia. Continua com o tratamento para IRC, anemia e receita geriátrica antroposófica. Continua com a medicação geriátrica, fazendo pausa em dezembro.

  1. Clínica Tratamento por 23 anos – A.L.D. viúva, do lar, nascida em 23.9.25, dez filhos, colecistectomizada, residente em Juiz de Fora. Tratada nesta Clínica desde 29.5.85 (1ª consulta), com 60 anos na época e agora com 83 anos. Apresentava “anel esclerótico” na íris e no ex. 31.5.85 apresentava Colesterol=307 e Triglicérides=155. Atualmente no último ex. 17.1.06, Colesterol=230 e Triglicérides=135. Apresentou nódulos tiroideanos, que estão sendo acompanhados pelo endocrinologista. RM 26.04.05 = atrofia cerebral e microangiopatia (isquemia). US Doppler carotídeo 21.3.05 = 50 % de obstrução

Última consulta em 14.5.08, mostra-se muito bem situada no tempo e no espaço; acompanha a conversa, responde às perguntas, apesar de recatada e introspecta. Continua com a medicação preventiva geriátrica antroposófica, fazendo pausas em dezembro e em julho.

  1. Clínica Tratamento por 17 anos – R.C.Z. solteira, enfermeira aposentada, nascida em 25.1.43, Artrite Reumatóide desde os 46 anos. Tratada nesta Clínica desde 20.11.92 (1ª consulta), com 49 anos na época e agora com 66 anos.

Última avaliação, em 2009, mostra-se muito bem clinicamente, sem nenhuma queixa artrítica, apesar de os valores laboratoriais da Artrite se apresentarem elevados (Látex). Ou seja, apesar de não se conseguir debelar essa proteína auto-imune (proteína velha), a medicação antroposófica tem protegido as articulações durante todo esse tempo de tratamento (17 anos). Continua com o tratamento específico para a causa da auto-imune da Artrite (com Viscum D3 injetável mensal), além da fórmula preventiva geriátrica preconizada, fazendo pausas em dezembro e em julho.

  1. Clínica Tratamento por 15 anos – T.A.A. viúva, do lar, nascida em 11.2.27, procurou a Clínica em 30.12.94, aos 67 anos de idade e atualmente com 82 anos. Apresentava alergia cutânea pruriginosa em todo corpo (urticária), provavelmente por reação alérgica pós-cirúrgica para desobstrução intestinal, por aderência causada após apendicectomia, há 8 anos.

Após 7 anos de tratamento preventivo, em consulta de 5.2.02 apresentou nódulo palpável na mama E, medindo 2×2 cm, axilas livres. Encaminhada à biópsia e provável cirurgia, mas recusou-se. Optou por fazer o tratamento preventivo, mesmo sem o diagnóstico de certeza. Por 6 anos fez tratamento preventivo, com Viscum D3 (M ou P) injetável, 1x/semana, no deltóide, subcutânea. Por uns anos o nódulo chegou a crescer para 4×4 cm.

Última consulta 3.1.09, não queixa de nada, a não ser dores na coluna, pela artrose. O nódulo continua palpável, móvel, 2×2 cm.

  1. Clínica Tratamento por 25 anos – G.L.S. sexo masculino, nascido em 17.11.31, casado, ex-padre, professor universitário, residente em Brasília-DF. Procurou a Clínica em 23.04.84, aos 53 anos de idade e atualmente com 78 anos. Apresentava hipertensão arterial, digestão difícil, halitose e insônia. Aos 21 anos submeteu-se à tireoidectomia por causa de hipertiroidismo. Em uso desde então de reposição hormonal alopática. PA 140×100. Não foi necessário uso de medicação anti-hipertensiva acadêmica, pois os níveis foram se adequando ao tratamento preventivo.

Vários retornos, até 2007, pelo menos 1x/ano, para controle clínico-laboratorial. A queixa permanente era “halitose”, por causa da difícil digestão. PA 120×80. A receita geriátrica era permanente, com medicamentos específicos para queixas pontuais. Em 22.7.08 apresentou hérnia discal (TC 9.1.08 = Hérnia de Disco entre L3-L4/L4-L5/L5-S1) e US 27.3.08 = esteatose hepática. PA 140×80. Tratado com medicação específica para H. Disco e para o fígado, com a fórmula para o metabolismo. Resolubilidade da H. Disco e melhora clínica da digestão.

Última consulta 12.1.09, melhorou da tonteira, dedo em gatilho da mão esquerda, caimbras. PA 130×80. Eco 20.6.08=insuficiência valvas Mi e Tri, déficit de relaxamento do VE. Continua com a receita geriátrica preventiva.

COMENTÁRIOS

O “tratamento geriátrico preventivo antroposófico” prescrito a todos os pacientes a partir dos 50 anos atendidos nesta Clínica mostrou, em controles periódicos de avaliação, melhora substancial da qualidade de vida destes. Através da formulação antroposófica revitalizante, que tem como base a fenomenologia do envelhecimento orgânico, consegue-se amenizar a decrepitude orgânica, cujo resultado é a evidente melhora da qualidade de vida em todos pacientes submetidos a esta conduta preventiva.

SUMMARY

The “preventive geriatric anthroposophical treatment” prescribed to all patients from the age of 50, attended in this Clinic, showed, in controls periodic evaluation, substantially improves in the quality of life of these. By revitalizing anthroposophical formulation, which is based on the phenomenology of aging body, we can mitigate the organic impotence, which result is the improving in quality of life in all patients undergoing this conduct preventive.

Key words: Geriatrics, geriatric anthroposophic medicine, anthroposophic medicine

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