Rudolf Steiner diz que a essência arquetípica que perpassa as encarnações
provoca uma determinada ação nos 4 membros da natureza humana.
A partir da interação desses 4 membros é que surge o
matiz do homem que se chama de temperamento.
Eu = colérico
astral = sanguíneo
etérico = fleumático
corpo físico = melancólico
Segundo Steiner não se pode considerar a saúde como processo natural e a doença como processo anormal. Ambos são processos naturais. Os processos que ocorrem no corpo físico nunca são autônomos e nem todos têm o mesmo significado. Alguns podem ocorrer devido à ação do corpo etérico, outros devido à ação da alma e outros devido à ação do Eu. Manifestam-se no corpo físico, com graus mais ou menos especializados e diferenciados, de acordo com sua origem.
Por isso é preciso temperar a vida, usar o “tempero” (Galeno) certo na orquestração da vida. Chama-se Temperamento. Nesse caso a saúde é o resultado do equilíbrio de poderes (dynamis): úmido e seco, frio e quente, amargo e doce.
“Toda multiplicidade, beleza e riqueza da vida, são possíveis graças aos temperamentos”. RS.
“Não importa a idéia tal como se manifesta na generalidade (typus), mas sim como se apresenta no seu singular (indivíduo). O tipo tem a determinação de se realizar tão somente no indivíduo. A pessoa, que já é algo ideal, tem de conquistar uma existência baseada realmente em si mesma. É totalmente diferente falar de uma Humanidde em geral ou de um conjunto geral de leis, que se aplicam à natureza. No último, o particular é condicionado pelo geral; na idéia da Humanidade, a generalidade é condicionada pelo particular” RS.
“Alguns consideram o temperamento melancólico como ligado ao elemento terra; o fleumático, ao elemento água; o sanguíneo ao elemento ar; e o colérico, ao elemento fogo”. RS.
Os filósofos, como viviam nos “processos” da natureza, bebiam de fonte límpida noética; ou seja, saboreavam o suprassensível. Heráclito dizia que tudo vem do fogo; Anaxímenes que tudo vem do ar; Tales da água e Anaximandro da terra. Daí se apreendem os conhecimentos que se têm hoje:
Filósofo | Elemento | Humores | Temperamentos | Antroposofia |
---|---|---|---|---|
Heráclito | fogo | bile preta | colérico | eu |
Anaximenes | ar | sangue | sanguíneo | alma |
Tales | água | fleuma | fleumático | etérico |
Anaximandro | terra | bile amarela | melancólico | físico |
Na tradição hipocrática, os Temperamentos eram determinados pela predominância de um dos 4 humores (sangue, bile negra, bile amarela e fleuma). Na concepção steineriana, eles eram determinados pela predominância de um dos 4 membros constitutivos do homem (corpo físico, corpo etérico, astral e eu). A palavra “humor” na Antiguidade significava uma coisa úmida, relacionada a um líquido ou fluido. A palavra “humore” significa bebida, líquido corporal ou líquido de qualquer espécie. Gradualmente a palavra “humor” passou a indicar uma disposição de espírito, determinada a partir da distribuição e quantidade dos humores do corpo humano. Uma pessoa bem humorada seria aquela que tivesse “bons humores” ou bons líquidos. Essa idéia humoral é atribuida à Hipócrates (séc. IV aC), cujo conjunto de obras denomina-se “Corpus hippocraticum ou Coleção hipocrática”. A doença seria o resultado de isolamento de um desses humores e a cura se daria pelo “cozimento desse humor”. O médico apenas observa as secreções e as excreções. Não há descrição das causas fisiológicas. As receitas são dietas, exercícios físicos, banhos e aplicações externas (para promover o cozimento) e o uso de laxativos (para promover a evacuação). A cura pode ocorrer pela alopatia (tratamento pelo contrário), através de dietas e utilização de substâncias medicinais, com propriedades contrárias às propriedades dos humores. Se o paciente está com excesso de fleuma, deve ingerir alimentos “quentes” com condimentos (pimenta). A escola egípcia admitia que o início das doenças se daria a partir da putrefação de resíduos nos intestinos. Saúde e doença seriam relacionadas à alimentação, a qual contribuiria para a composição dos humores. Os alimentos precisariam ser transformados em substâncias corporais e isso acontecia através do cozimento, digestão e maturação.
A medicina aristotélica baseava-se num sistema racional de conhecimento. Aperfeiçou a doutrina dos 4 elementos de Empédocles, relacionando-os às 4 qualidades básicas (quente-frio – úmido-seco) e associou as qualidade e elementos com os 4 humores e alguns órgãos. Para Galeno, cada pessoa nasce com certa combinação ou “tempero” dos 4 humores básicos. No caso da doença, era determinado por desequilíbrio de 1 ou 2 humores. No caso de febre, um menino de 4 a 6 anos necessitaria de um remédio frio, devido a seu temperamento ser sanguíneo. Uma menina da mesma idade, necessitaria de um medicamento menos frio, porque segundo ele, as mulheres têm por natureza um temperamento frio. Porém um velho, teria temperamento fleumático e necessitaria de um medicamento levemente frio. Hipócrates aconselhou uso de mel ao temperamento bilioso, uma vez que é muito quente. O mel é bom para o velho mas não para o jovem.
Steiner diz que a essência arquetípica que perpassa as encarnações provoca uma determinada ação nos 4 membros da natureza humana. A partir da interação desses 4 membros é que surge o matiz do homem que se chama de temperamento. Eu = colérico / astral = sanguíneo / etérico = fleumático / corpo físico = melancólico.
COLÉRICO = O Eu se fortalece gerando um centro forte e firme no interior. Com isso impede o corpo astral e o etérico de se desenvolverem. Como consequência as forças formativas se tornam limitadas, impedindo o crescimento dos outros membros, tornando-o pesado e com frequência um “baixinho invocado” (Napoleão, Fichte, etc). Os olhos são escuros, pois o Eu predomina sobre o astral e impede o surgimento das cores. A luminosidade se volta para seu interior, com a maneira firme e segura de olhar ardente e brilhante. Apresenta andar firme, com o calcanhar e postura bem talhada. Ou seja, vive no calor do sangue: “O sangue freia a vida flutuante das sensações e sentimentos, é o domador da via nervosa”. RS. O grande perigo é a fúria raivosa.
SANGUÍNEO = O Corpo Astral, com as sensações e representações, comum com o animal, vive no sistema nervoso. “Nesse entusiasmo súbito e nessa passagem fugaz de uma coisa para outra vemos a expressão do corpo astral predominante, o temperamento sanguíneo. O sanguíneo não consegue demorar-se numa impressão, não consegue fixar-se numa imagem, não prende seu interesse a um objeto. Ele passa de uma impressão a outra, de uma idéia a outra, mostrando uma volubilidade dos sentidos.” RS. Apresenta andar saltitante. O menor perigo é a volubilidade, a inconstância. O perigo maior é a alienação mental causada pelos altos e baixos das oscilações das sensações.
FLEUMÁTICO = O Corpo Etérico representa o sistema glandular (igual ao vegetal). Na sua exacerbação, as forças formativas inferiores do bem estar estão demasiadamente aitvas e acima do normal. A hipersecreção glandular acaba se agregando ao corpo humano, tornando-o corpulento, inflando-o, com acúmulo de gordura. Apresenta um andar desleixado, arrastado (aparenta não querer pisar no chão), com fisionomia imóvel e indiferente, olhar apagado e incolor. Está voltado para dentro, não quer sair do seu interior. O perigo menor é a falta de interesse pelo mundo exteiror e o perigo maior é a debilidde mental, a idiotia.
MELANCÓLICO = O Corpo Físico se expressa através dos órgãos sensoriais. “Somos muito facilmente tocados pela impressão dolorosa e sofregamente pela vida. O homem começa a ficar pensativo, melancólico. Sempre existe aí um emergir da dor. Essa disposição surge unicamente do fato de o corpo físico opor resistência à comodidade interna do corpo etérico, à mobilidde do corpo astral e à firmeza decisória do eu.” RS. O melancólico não consegue dominar o corpo, não consegue fazer uso do corpo. Sua cabeça normalmente pende para frente, pois não dispõe de força para erijecer o pescoço. No olha onde anda; e no andar é que se percebe o peso e as dificuldades que seu corpo lhe traz. Seus olhos são voltados para baixo e seu olhar é turvo. Apresenta andar pesado, arrastado. Perigo menor é a depressão e perigo maior é a loucura.
Antonio Marques
a partir da tese de mestrado da Profª Sandra Kuka Mutarelli
Os Temperamentos na Antroposofia de RS
PUC – SP – 2006