Associação Econômica Saúde – JF

Em abril de 1997, médicos e pacientes desta clínica inauguraram a Associação Econômica Saúde-JF. Objetivava-se desenvolver um diálogo associativo, entre “produtores” e “consumidores”, no sentido de se chegar a um “termo médio”, entre ambos, na questão de preços das consultas, dos procedimentos terapêuticos, etc. O que já era conduta normal de respeito pelos pacientes, permanecemos durante quatro anos sem elevar os preços. Isso na vida econômica atual brasileira é um espanto! Infelizmente agora nos vemos na contingência, com a inflação de volta, de elevar os preços das consultas (vide tabela atrás), a partir de 24 de setembro deste ano. Este número do jornal é justamente para justificar isso e sugerir novos rumos na economia. É uma proposta humanista, baseada no conhecimento de causa do que é “economia”.

Prezado cliente:

Como já é do seu conhecimento, não fazemos parte de nenhum convênio médico. Este se basea no “cooperativismo entre produtores de serviços” e sendo assim dita normas, preços, etc, sem perguntar ao consumidor as suas reais necessidades. A nossa sugestão é de promover um “diálogo” entre os “prestadores de serviços” e os “usuários”, no sentido de se chegar a um “termo médio” que interesse ambas as partes. Assim não se estará prevalecendo apenas o que a prestadora de serviços dita como normas, imposições de preços e indução ao consumo. E como a questão de “preço” é o elemento mais relevante na economia, a oferta e a demanda devem ser “assessoradas” pela “associação entre produtores e consumidores”. Por isso é que na vida econômica pós-moderna pressupõe o impulso associativo. O mais importante é a “confiança” e o “senso de comunidade” gerados entre as partes. E somente por esse motivo é que conseguimos segurar o preço da consulta nestes quatro anos.

Qual deve ser a postura econômica pós-moderna? O mundo necessita de uma nova ordem econômica, em que precisa patrocinar o “diálogo” entre todos os interessados pela vida econômica, ou seja, todos os que produzem e consomem algo. Não se pode perpetuar antigas posturas medievais (das corporações), em que um pequeno grupo de produtores dita as regras, como as “cooperativas”. O mesmo se pode dizer da “estatização”, que privilegia um pequeno grupo (os funcionários públicos). O outro extremo, futurista radical, o “neoliberalismo”, passa por cima dos interesses individuais, mas cai no mesmo erro, de privilegiar um pequeno grupo (os poderosos). Estamos numa época histórica em que ninguém trabalha para si, mas “se trabalha para os outros, pela divisão de trabalho”. Isso significa que vigora uma lei na economia: “A produção precisa entrar na circulação para atender as necessidades dos consumidores”. O padeiro que produz 1000 pães por dia, não os faz para si, mas para seus clientes. Isso tem a ver com a fraternidade que se precisa ter nos dias atuais (ou seja, trabalhar para os outros).

Os outros dois impulsos do organismo social, são: a liberdade e a igualdade. O primeiro deve existir na vida cultural livre (nas ciências, nas artes, no indivíduo) e o segundo deve prevalecer na vida social (perante a legislação, o estado). Nesse sentido, precisa-se compreender o organismo social como trimembrado nessas esferas, e não apenas se fixar em apenas um aspecto, pois, quando se diz que alguém é “democrata”, apenas está se referindo ao aspecto político; ou quando outro diz que é “liberal”, apenas está se referindo à sua capacidade individual; ou que é “socialista”, apenas está se referindo ao que deve existir na esfera econômica moderna. No entanto, é preciso ser liberalista, democrata e socialista, ao mesmo tempo! Isso porque cada aspecto corresponde a um “membro” do “organismo social”.

Portanto, estes três sistemas do organismo social vão receber vários nomes, dependendo de cada época histórica: numa fase precoce da humanidade, não havia separação nítida entre eles, pois a Religião preponderava e impunhava “os caminhos” a seguir, acima das esferas estatal e econômica. Não havia questões trabalhistas, nem questão social dos valores do trabalho, nem economia como se conhece hoje. A partir dos romanos, os impulsos religiosos (e éticos) passaram a não influenciar em demasia e foram se restringindo à esfera moral, deixando, em conseqüência, de criar impulsos econômicos. Inclusive o trabalho só pôde ser incorporado à esfera social, a partir do nascimento do Direito. Surgiam assim, ao mesmo tempo, a valorização do trabalho e o direito. São processos históricos lentos, pois o que “nasce” numa época só se concretiza a posteriori. Nesse sentido, já nos primeiros séculos da Idade Média, as condições trabalhistas se separaram das organizações religiosas. E recentemente vive-se a concretização da economia, autônoma, “globalizada”, como novo membro do organismo social trimembrado.

Atualmente o “preço” não tem a ver com a mercadoria. O valor depende das opiniões das pessoas. Como diria Karl Marx (O Capital, Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1971,v.I,p.83 ), “o valor não traz escrito na fronte o que ele é. Longe disso, o valor transforma cada produto do trabalho num hieróglifo social”. Uma mercadoria pode ter num local um preço e no outro local um outro preço. O próprio governo (que deveria se ater à vida social) se intromete na vida econômica e manipula artificialmente juros, tarifas, salários, preços, etc… Por isso é que se precisa uma postura pós-moderna, condizente à época atual. É preciso que produtores, consumidores e comerciantes se entendam previamente, num princípio associativo. É necessário se chegar ao ponto em que os bens produzidos tenham seus respectivos valores em comparação com outros bens. Por isso cabe à vida econômica se preocupar com a sua específica função: os “valores das mercadorias” (ou procedimentos terapêuticos no nosso caso). Por isso, devem as associações econômicas estudar e pesquisar as necessidades humanas, suas relações com os valores dos produtos e seus preços. Isso é possível regulando o “trabalho”, ou seja, as pessoas que trabalham. Para isso é preciso pensar na valorização, promoção e reciclagem funcional dos funcionários. Assim, o “preço” dependerá diretamente do número de trabalhadores num determinado setor produtivo. Neste caso, se aproximará do valor do produto e ficará igual ao que caberá à necessidade humana.

Vamos ouvir Rudolf Steiner (no seu livro Economia Viva, São Paulo : Antroposófica, 1993, p. 132) o que diz sobre isso: “Podem-se ingugurar associações (econômicas) com amplo tirocínio econômico; mas se em tais associações não houver uma certa qualidade, nem o melhor tirocínio adiantará muito. Algo mais deve estar contido nas associações, o que só ocorrerá se sua existência for reconhecida como uma necessidade. Elas deverão ter senso de comunidade, um verdadeiro senso de todo o curso do processo econômico. O indivíduo que consome diretamente o que compra não pode senão satisfazer seu senso egoístico. De fato, se não satisfizesse seu senso egoístico ele ficaria em má situação. Não é possível que, se alguém lhe oferecer um terno por, digamos quarenta francos, ele, como indivíduo no âmbito do processo econômico, diga: “Não concordo, pago sessenta francos”. Isso não é possível; é algo que independe da influência do indivíduo no processo econômico. Em contraposição, no momento em que no processo econômico entrar em cena o elemento associativo, neste momento não estará presente o interesse pessoal imediato, sendo substituído por uma visão global do processo econômico. Ora, sem isso não poderá resultar um juízo econômico, de forma a sermos levados, a uma reciprocidade entre seres humanos e ao que pode desenvolver-se dessa reciprocidade, ou seja, senso de comunidade objetivo e atuante nas associações um senso de comunidade que não nasce de uma doutrinação moral, e sim do reconhecimento das exigências do processo econômico”.

Nesse sentido, os que estiveram presentes nas reuniões da Associação Econômica Saúde-JF não se tornaram sócios de carterinha de um clube ou corporação, que precisassem pagar mensalmente uma taxa de adesão, para poderem usufruir egoisticamente dos benefícios. Todos os que participaram tinham em mente a necessidade de que o benefício fosse estendido a todos, indistintamente, num verdadeiro “senso de comunidade”. Assim queremos prestar contas da nossa Associação. Dê sugestões, participe também.

Dr. Antonio Marques

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