Tratamento clínico da Hérnia de Disco

Antonio José Marques () Hélio Takashi Sakimoto (*)

RESUMO: Este trabalho visa, em primeiro lugar, apresentar um protocolo terapêutico antroposófico para o tratamento da Hérnia de Disco, tendo como argumento a casuística de “alta clínica definitiva” a todos pacientes tratados desta afecção nesta Clínica. Em segundo lugar pretende-se elaborar uma “hipótese dedutiva” de como atuaria a medicação antroposófica injetável, que se imputa a uma “desidratação seletiva” do núcleo pulposo, com sua retração do espaço vertebral e conseqüente ausência do processo álgico.

UNITERMOS: hérnia de disco, lombociatalgia, medicamentos antroposóficos, medicina antroposófica.

  1. INTRODUÇÃO:

__A Hérnia de Disco corresponde ao processo de ruptura do anel fibroso do disco intervertebral, com subseqüente deslocamento do núcleo pulposo para dentro do espaço vertebral, provocando dores lancinantes, que irradiam para os membros inferiores. A conduta clássica acadêmica, de apenas dirimir a dor, com analgésicos e antiinflamatórios ou cirurgia (laminectomia), têm se mostrado inoperantes, pois não abarcam a etiologia desta patologia. No entanto, utilizam-se os medicamentos sintomáticos acadêmicos, apenas para dar um alívio temporário, até a efetiva resolubilidade pretendida com esta orientação, como se mostrará a seguir.

__Intenta-se mostrar os excelentes resultados no tratamento da Hérnia de Disco com remédios antroposóficos, realizados nesta Clínica. Todos os pacientes foram beneficiados com esta conduta. Mesmo os pacientes submetidos à cirurgia prévia (laminectomia), tiveram seus problemas resolvidos.

  1. ETIOPATOGENIA

__A causa da hérnia de disco geralmente é imputada a um traumatismo em flexão, mas em muitos casos não há esse relato. O que ocorre realmente é uma “degeneração dos ligamentos longitudinais posteriores e do anel fibroso, que ocorre na maioria dos adultos na meia-idade e idade avançada. Pode ser silenciosa ou manifestar-se por branda lombalgia recorrente. Um espirro, um cambaleio ou outro movimento banal, podem causar protrusão do núcleo pulposo, empurrando o anel lacerado e enfraquecido em sentido posterior.”1

__Apesar de se constatar que a causa principal é devido à fraqueza do anel fibroso, no entanto “as primeiras alterações se instalam no seio do núcleo pulposo discal, que é uma estrutura integrada por fibras colágenas, situadas em uma matriz de mucoproteínas (proteicans). Com o passar dos anos, o núcleo pulposo se desidrata, passando de um conteúdo de água de 88% a 70%; a água é retida no núcleo pulposo por sua constituição de gel de proteínas e possacarídeos; depois dos 30 anos de idade, aumenta o colágeno e diminuem as mucroteínas. Assim o núcleo pulposo torna-se menos elástico e menos diferenciado do anel fibroso que o rodeia; com isso se criam alterações dinâmicas que explicam o deslocamento posterior do núcleo pulposo, acompanhado da rotura das fibras do anel fibroso que o limitam por trás.”2

__Na anatomia patológica, segundo Farreras, “na primeira etapa tem lugar à degeneração do núcleo pulposo, que amolece e se fragmenta. As fibras posteriores do anel fibroso sofrem idênticos processos. A segunda etapa, o núcleo pulposo se desloca posteriormente, de modo brusco ou, o que é mais freqüente, progressivamente. A protrusão costuma ser lateral. A terceira etapa é a de fibrose e reconstrução. O núcleo degenerado que sofreu prolapso e a parte que continua no seio do disco, fibrosam e reduzem de volume. Também sofre processo de fibrose a zona fragmentada do anel fibroso que houver atravessado o núcleo pulposo. O tecido subcondral experimenta uma esclerose progressiva, aparecem osteófitos marginais, o espaço discal se reduz em altura e secundariamente afeta a dinâmica e a estrutura das interapofisárias posteriores”.3

__“Calcula-se que 2 a 3% da população sejam acometidos dessa afecção, cuja incidência é de 4,8% em homens e 2,5% em mulheres, acima de 35 anos, embora existam relatos em adolescentes e pessoas idosas e mais raramente em crianças. Tende ocorrer em primeiro lugar na 5a vértebra lombar e em segundo lugar na 1a vértebra sacral.”4

  1. CLÍNICA DA HÉRNIA DE DISCO

__As síndromes discais lombares geralmente são unilaterais. Somente nas lesões discais maciças ou com extrusão de um grande fragmento para dentro do canal vertebral, os sintomas e sinais são bilaterais. Muitas vezes se manifesta só de um lado. Com relação à dor, varia de leve à grave, aparentando múltiplas rupturas discais. Por causa do comprometimento da raiz nervosa, a dor e distúrbios sensoriais (parestesias, hipersensibilidade e hipossensibilidade) são mais relevantes na clínica diária. Segundo o padrão dos dermátomos, pode manifestar com abalos grosseiros, fasciculação, espasmos musculares e comprometimento de reflexos tendinosos. Podem ocorrer também anormalidades motoras (fraqueza e atrofia musculares).

__Como as lesões discais mais comuns ocorrem na 5a raiz lombar e em segundo lugar na 1a raiz sacra, como se citou, é importante definir as queixas clássicas destas duas afecções: 1ª) “As lesões da 5a raiz lombar provocam dor na região do quadril, na virilha, na face posterior da coxa, na panturrilha lateral, até o maléolo externo, na superfície dorsal do pé e no primeiro ou no segundo e terceiro artelhos. As parestesias podem ser no território inteiro ou apenas nas partes distais destes territórios. 2ª) Nas lesões da 1a raiz sacra, a dor é sentida na região glútea média, na área posterior da coxa e na panturrilha. As parestesias e a perda sensorial são principalmente na perna e nos artelhos externos. A fraqueza, se presente, afeta os músculos flexores do pé e dos artelhos, os músculos eversores do pé, os músculos abdutores dos artelhos e os músculos posteriores da coxa”.5

__O diagnostico clínico é incompleto, pois se resume principalmente na queixa da dor. Para o diagnóstico diferencial com a artrose lombar, tumores epidurais e intradurais do canal espinhal, é preciso solicitar um dos dois exames: Tomografia computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM).

  1. TRATAMENTO ANTROPOSÓFICO

__O objetivo básico do tratamento antroposófico para a Hérnia de Disco, pelo menos o realizado nessa Clínica, é a resolubilidade do quadro clínico = as dores lancinantes, que geralmente persistem durante anos a fio. Procurou-se estabelecer um protocolo medicamentoso antroposófico, que atingisse a fisiopatologia desta afecção. Por causa da “melhora evidente” nos pacientes tratados, procurou-se fazer uma “hipótese dedutiva”, de como atuaria esta medicação antroposófica específica.

__O que se constatou: A “medicação antroposófica injetável” parece provocar uma “desidratação seletiva” do núcleo pulposo, com sua retração e liberação do espaço vertebral, com supressão da dor. Ao descomprimir a medula, tem-se conseqüentemente, a ausência do processo álgico. Apesar de o núcleo pulposo sofrer uma “desidratação fisiológica” com a idade, como se citou acima, quando se instala esta patologia, ele está deslocado para o espaço vertebral, o que faz provocar dor por compressão da raiz nervosa.

__Esta “desidratação seletiva” é realizada com o uso de injetáveis dinamizados aplicados na região lombo-sacral, subcutânea, diariamente (1 ou 2x / dia) ou em dias alternados, conforme a crise. Geralmente 20 aplicações, diariamente e; depois, com a melhora, pacotes de 10 aplicações, em dias alternados. Supender a medicação injetável, quando suprimir inteiramente a dor. A medicação oral antroposófica serve apenas de suporte e com ela se mantém o tratamento por vários meses, mesmo constatando-se a resolubilidade do quadro. Ou seja, o tratamento principal se dá com o uso de injetáveis, por tempo limitado, até a supressão álgica. A via oral é um complemento e se prolonga até 3 a 5 meses. Geralmente é de bom alvitre a repetição oral nos períodos de inverno, para fortificar os ligamentos e tecidos conjuntivos da coluna vertebral.

__Por causa da contratura paravertebral, induzida pela dor, o paciente é submetido às sessões de massagens relaxantes (principalmente a Massagem Rítmica Hauskha ou Massagem Russa com mel) e compressas quentes nos locais afetados, antes das aplicações dos injetáveis. Dessa maneira o resultado se mostra mais rapidamente.

  1. CASUÍSTICA DESTA CLÍNICA

__A casuística, que será apresentada, corresponde à soma dos pacientes tratados nesta Clínica Médica, no período de 28 anos (1979 a 2007). A resolubilidade tem sido de 100% dos pacientes tratados (total de 193 pacientes), até o presente momento. Mesmo naqueles casos considerados mais complicados, principalmente de cirurgia prévia (laminectomia), em que não se logrou êxito, os resultados têm sido excelentes, como se verá a seguir. Geralmente é enfatizado ao paciente que o resultado é melhor naqueles casos em que não houve cirurgia prévia. Mas mesmo nesse caso, o resultado tem se repetido = plena resolubilidade (vide exemplo abaixo no caso clínico no 5).

__Por isso imputa-se à “hipótese dedutiva”, como se frizou: O que ocorre é simplesmente uma “desidratação seletiva” do núcleo pulposo, com sua retração do canal vertebral e liberação conseqüente da compressão medular (= imediata supressão da dor).

__A incidência observada nesta Clínica é praticamente igual entre homens (96) e mulheres (97), no total de 193 pacientes. A faixa etária que prevalece fica entre os 30 a 60 anos de idade.

TABELA 1

Estudo retrospectivo dos casos de “Hérnia de Disco”
Total e percentagem de resolubilidade no primeiro tratamento<
Clín. Méd. Vivenda Sant’Anna/Juiz de Fora, 2007

EvoluçãoPacientesPercentagem
Assintomáticos no 1º tratamento193100%
Soma193100%

TABELA 2

Estudo retrospectivo dos casos de “Hérnia de Disco”
Incidência entre faixa etária e sexualidade
Clín. Méd. Vivenda Sant’Anna/Juiz de Fora, 2007

Faixa etáriaMasculinoFeminino
11 – 2058
21 – 301317
31 – 401821
41 – 502120
51 – 602019
61 – 70149
71 – 8053
Soma9697
  1. QUADROS CLÍNICOS

__Serão citados 5 casos clínicos, com características distintas e variadas, cujo objetivo é mostrar os excelentes resultados com a medicação antroposófica, conforme protocolo apresentado à montante:

M.J.C.T. sexo feminino, nascida em 26.5.42, casada, enfermeira. 1ª Consulta: 27.1.07, lombalgia. RM de 19.8.06 = “protrusão discal entre L1-L2 / L3-L4 / L4-L5”. Mesmo com analgésicos mais potentes, as dores permaneciam inalteradas. Tomou a prescrição. 2ª. Consulta: 12.4.07 (3 meses depois), não apresentava mais a queixa álgica. Alta clínica definitiva.

M.F.C.C. sexo feminino, solteira, nascida em 4.7.56, residente nesta cidade, bancária. 1ª Consulta: 12.7.02, com dor lombar, que irradia para as pernas, há 3 meses. RM 5.7.02 = “Hérnia de Disco entre L4-L5”. Com o tratamento preconizado, as dores logo cerraram. 2ª. Consulta: 1.6.05 (3 anos depois), com queixas de lombalgia e irradiação para as pernas. A própria paciente supeitou que a patologia poderia ter voltado. Como funcionário de Banco, conseguiu nova RM, que foi feita em 30.5.05, mesmo antes da consulta, cujo laudo foi = “redução da protrusão discal entre L4-L5, comparando com exame anterior”. Foi uma simples lombalgia que, mesmo assim mereceu repetir a medicação estabelecida, inclusive com as injeções, como reforço do tratamento. 3ª. Consulta: 23.8.07 (mais 2 anos depois) = Alta clínica definitiva.

L.v.R.P. sexo feminino, casada, nascida em 7.4.45, professora, residente nesta idade. 1ª. Consulta: 5.8.03, com lombalgia. TC de 19.3.03 = “Hérnia de Disco entre L5-S1 e desidratação degenerativa entre L3-L4 / L4-L5 / L5-S1”. Medicada, nunca mais teve crise. 2ª Consulta: 1.12.06 (3 anos depois) = Alta definitiva.

A.L.N.M. sexo masculino, nascido em 9.4.83, residente nesta cidade, chefe de cozinha. 1ª Consulta: 9.2.07, com dores lombares há 2 anos. RM 30.1.07 = “Hérnia de Disco entre L3 – L4 / L4 – L5 / L5 – S1”. Submeteu-se ao protocolo terapêutico. 2ª Consulta: 15.5.07 (3 meses depois) = “Alta clínica”.

W.R. sexo masculino, nascido em 13.3.25, odontólogo, divorciado, residente no Rio de Janeiro. Ficou sabendo deste tratamento por meio de pessoas conhecidas que relataram “cura” com este tratamento. 1ª Consulta: 16.8.07, com dores lombares há 12 anos, desde 1995, por ocasião da laminectomia entre L4-L5. Desde então não pára de sentir dor. RM 24.7.07 = “Laminectomia L4 – L5, protrusões discais D6 – D7 / D8 – D9 / L3 – L4 / L4 – L5 / L5 – S1. Presença de “fibrose nodular” obstruindo o canal medular, no nível de L4 – L5”. Para este caso, por ter apresentado “fibrose” pós-cirúrgica, foi necessário trocar a Bryonia por Fórmica. Ficou assim a medicação injetável: Arnica D3 + Fórmica D3, associadas e aplicadas bilateralmente na região lombar, diariamente. Dois dias após o paciente telefona por dois motivos: Primeiro para se desculpar da sua postura carrancuda e tarciturna. Relata que sempre foi alegre e por causa das dores nunca mais voltou a sorrir. Em segundo lugar pergunta o porquê das dores melhorarem a partir da primeira aplicação da injeção. Está muito contente e feliz com o tratamento. Vinte dias depois, após ter tomado as 20 injeções, diariamente, o paciente telefona relatando melhora substancial. Só dói um pouco quando vira bruscamente o tronco. Deverá tomar mais 10 ampolas, 3x/semana e suspender a medicação injetável. Se for preciso tomará mais 10 ampolas, 2x/semana, até a remissão total da dor. Deverá, no entanto, continuar com tratamento oral por mais 3 meses e suspender a receita.

  1. COMENTÁRIOS

__São dois os motivos deste trabalho. Elaborar um “protocolo” medicamentoso antroposófico para Hérnia de Disco, cuja resolubilidade tem sido de 100% dos pacientes tratados. Elaborar uma “hipótese dedutiva”, para explicar esta atuação curativa: a medicação antroposófica injetável provoca uma “desidratação seletiva” do núcleo pulposo, com sua retração, o que se pode justificar o alívio imediato da crise álgica.

  1. SUMMARY

__The aims of this study were: (1) elaborating an anthroposophic therapy protocol for hernieted intervertebral disk – whose complete regression has been 100%. (2) elaborating a deductive hypothesis to explain the curative effect, that is, anthroposophic injectable medicine cause a “selective dehydration” of the nucleus pulposus and its retraction to the intervertebral disk, what can justify the immediate relief of the intense pain.

__KEY WORDS: Intervertebral disk displacement, sciatic neuralgia, anthroposophic injectable medicines, anthroposophic medicine.

  1. NOTAS

1 HARRISON, 1995, p.80.

2 FARRERAS e ROZMAN. 1979, p.924-5.

3 Idem, p. 925.

4 NEGRELLI, 2001, p. 39.

5 HARRISON, 1995, p.81.

  1. BIBLIOGRAFIA

BOTT, V. Medicina antroposófica, uma ampliação da arte de curar, 2 ed. Juiz de Fora : ABR. 1984.

FARRERAS e ROZMAN. Medicina interna. 9 ed. Rio de Janeiro : Koogan, 1979.

GOODMAN e GILMAN, As Bases Farmacológicas da Terapêutica, 8 ed., Rio de janeiro : Koogan, 1991.

GUYTON & HALL, Tratado de Fisiologia Médica, 10 ed., Rio de Janeiro : Koogan, 2002.

HARRISON, Medicina Interna, 13 ed. México : Interamericana, 1995.

HUSEMANN, F. e WOLFF, O. A imagem do homem como base da arte médica. São Paulo : Resenha Universitária, 1987. v. I, II e III.

MARQUES, A.J. Repensar a Ciência. Rio Branco : Juiz de Fora. 1996.

NEGRELLI, W. F. Hérnia Discal: Procedimentos de tratamento. Acta Ortop Bras 9(4) – Out/Dez. 2001.


(*) clínico geral com “prática médica antroposófica” – diretor Clínico da Clínica Médica Antroposófica Vivenda Sant´Anna – Juiz de Fora (MG)

(**) acadêmico de medicina da Faculdade de Medicina Suprema – Juiz de Fora (MG)

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