Diagnóstico Psicossomático por meio da Pintura

Dr. Antonio Marques1, Dr.Edson Zaghetto Ferreira2 e Emi Arantes Morgado3

RESUMO: O “Diagnóstico Psicossomático por meio da Pintura” é um procedimento inédito (do ponto de vista metodológico) no meio médico antroposófico. É uma criação da equipe multidisciplinar (destes autores) da Clínica Médica Vivenda Sant’Anna, de Juiz de Fora (MG) que, desde o ano de 2000 vem estudando, estabelecendo parâmetros e balizamentos, no sentido de dar subsídios técnicos de como lidar com este “método diagnóstico artístico”. Visa-se, em primeiro lugar, entender os complexos processos psicossomáticos (a alma no corpo, através da pintura livre). Em segundo lugar, fazer com que o paciente entenda, por si mesmo, a sua problemática psíquica, através das cores que ele mesmo pintou e, assim, assumir as terapias indicadas pela equipe multidisciplinar. E, em terceiro lugar, dar subsídios argumentativos aos outros terapeutas (psicólogos, euritmista curativa, massagista, fonoaudióloga, etc.), de como trabalhar nas esferas espiritual, anímica e corporal. A metodologia que norteia este trabalho se baseia na “Ciência Dedutiva Goethiana-Steineriana”. Nesse sentido este trabalho será dividido em três partes. Na primeira parte serão apresentados os argumentos científicos teóricos. Na segunda parte serão apresentados três casos clínicos, com as respectivas pinturas, como modelos. Na terceira parte será apresentada a psicoterapia artística através dos “Doze Passos”, também inédita no meio médico antroposófico, que nasceu como conseqüência deste diagnóstico artístico. Ou seja, as próprias pinturas servem de fio condutor no tratamento psicoterápico.

UNITERMOS: Diagnóstico Psicossomático por meio da Pintura. Diagnóstico Artístico Psicossomático. Análise anímico-corporal. Psicoterapia artística. Doze Passos. Método Dedutivo Goethiano-Steineriano

1- Introdução

O “Diagnóstico Psicossomático através da Pintura” é inédito no meio médico antroposófico, principalmente por utilizar a metodologia goethiana-steineriana. Criado em 2000, pela equipe multidisciplinar da Clínica Médica Vivenda Sant’Anna, de Juiz de Fora (MG), cujos autores assinam este trabalho (um médico, um psicólogo e uma euritmista curativa).

Ele é utilizado, em primeiro lugar, como recurso complementar à consulta médica, no sentido de dar significação às queixas subjetivas do paciente. Através das pinturas, revelam-se meandros anímico-somáticos, antes totalmente velados. Em segundo lugar, serve ao próprio paciente, como confrontação à sua problemática psicossomática, no sentido de conscientizá-lo e fazer com que ele assuma as terapias preconizadas, indicadas pelo corpo clínico-terapêutico. Em terceiro lugar, serve aos outros terapeutas (psicólogos, euritmista curativa, massagista, fonoaudióloga, etc.), subsídios de como conduzir as terapias psicossomáticas indicadas. Muitas vezes as próprias pinturas servem como fio condutor na Euritmia Curativa e na psicoterapia artística dos “Doze Passos”.

Estes três objetivos citados nortearão este trabalho, desde a indicação médica, passando pela pintura propriamente dita, até às terapias preconizadas. Nesse sentido este trabalho será dividido em três partes. Na 1ª parte corresponderá ao corpo teórico, como argumentação basilar, através da “metodologia científica dedutiva goetheanístico-steineriana”, no sentido de referendar este novo método de “Diagnóstico Psicossomático através da Pintura”. Na 2ª parte serão apresentados três casos clínicos, com as respectivas pinturas. Na 3ª parte será apresentada a psicoterapia artística dos “Doze Passos”, também inédita no meio médico antroposófico, que nasceu como conseqüência deste diagnóstico artístico.

1 PARTE

OS ARGUMENTOS

2- Metodologia Científica Dedutiva Goethiana-Steineriana

Antes de apresentar esta metodologia, faz-se necessário dar alguns exemplos de como funciona esse processo. Ele é realizado em muitas das nossas atividades, só que não damos muita atenção as esses detalhes. O médico, ao “observar” um paciente, começa a elaborar “intelectualmente” o quadro clínico, no sentido de captar a “ideia” da doença. O engenheiro, ao “observar” um terreno, elabora “mentalmente” as possibilidades técnicas de como realizar a “ideia” do prédio. A cozinheira “observa” na feira as variedades de verduras e “pensa” como concretizar a “ideia” daquela salada gostosa.

Essa tríade: observar, intelectualizar e idear (formar a “ideia”) foi desenvolvida por Goethe. Ou seja, o pesquisador deve: Em 1º lugar) partir da “observação” do fenômeno, através dos órgãos físicos; Em 2º lugar) elaborar “intelectualmente” (“discernir, calcular, medir, pesar”, segundo as palavras de Goethe) os dados do problema; Em 3º lugar) realizar a mais importante de toda a experiência: chegar à “ideia” do fenômeno (que ele denomina de “contemplação ou intuição”). Atingem-se, assim, aos três patamares: “físico, anímico (Ego, intelecto) e espírito (Self)”.

Método Científico Dedutivo Goethiano

“Observar”“discernir, calcular, medir, pesar”“contemplar ou intuir”
Órgãos físicosIntelectoIdeia
Corpo físicoAlmaEspírito

Faz-se necessário explicar a dualidade entre “intelecto” e “ideia”. Ou seja, entre a alma (portadora do intelecto ou Ego) e o espírito (portador da ideia). Assim como os objetos externos se apresentam instáveis e mutáveis a todo instante, assim são os nossos pensamentos (intelectuais) a respeito deles. Essa instabilidade compromete o conhecimento do ser verdadeiro que se procura dentro de si, algo que se possa julgar: isto é necessário e verdadeiro. Esse processo só ocorre dentro do espírito, e não nos pensamentos instáveis técnicos (da alma), nem no meio ambiente. Estes têm a ver com a constatação “empírica” (que o intelecto incorpora) e são algo bem distinto da “verdade” (que o espírito elabora). Exemplo: 2+2=4. Para o “intelecto”, pode-se entender como a soma de duas unidades matemáticas se processa; mas, para fazer o juízo da totalidade, é preciso a interferência do “espírito”. Da regra intelectual de necessidade (é “necessário” que seja assim e não de outro modo), caminha-se para a satisfação mais interna, como sendo algo “verdadeiro e harmonioso em si”. Por isso Aristóteles afirma que “o entendimento é uno”. Ou seja, ao se “entender” um fenômeno, já se encontra no reino divino pensamental (O entendimento é uno com o Divino). O “pensar empírico” (através da alma) faz a ponte para se chegar ao “pensar puro” (espiritual).

Portanto, como se manifesta a revelação do conhecer? Como se processa o conhecimento no pensamento? Como se tem a certeza de um fato? Como se compreende um fenômeno, mesmo que seja uma “observação anímica” através da pintura? – Seria infantil afirmar que a química pensa, que o cérebro secreta a idéia. A mente não é um recipiente que contém ideias, mas um órgão que as recebe. A mente, portanto, apenas capta o pensamento (que é espiritual). É o espírito que vive no “mundo das ideias” (pode-se dizer que o mundo espiritual é o próprio mundo das ideias) e pode assim “absorver a ideia”. Mas como o mundo das percepções empíricas não satisfaz, é preciso acrescentar o conceito intelectual, para captar a ideia. A congruência desses três elementos é que traz a compreensão do fenômeno, como se afirmou acima.

Os dois primeiros passos (observar e intelectualizar) são exigidos do pesquisador e o último corresponde à certeza do fenômeno, quando se sente muitas vezes “um calorzinho dentro de si” (aí se encontra no pensamento espiritual, pois o entendimento é uno). Deve-se iniciar pelos conceitos gerais e universais – partir do “todo”. Começar pelos fatos concretos, que são palpáveis e reais, comparando-os, ordenando-os, para se chegar a desmembrar em sistemas, num caminho às particularidades, aos detalhes, “às partes”. No nosso caso, observam-se cores, falhas, “molduras”, formas geométricas, pinceladas, escolhas das tintas, pinturas escuras, luminosas, leves, etc. É um método de pesquisa baseado na experiência pura, mesmo quando se eleva à ideia. Mas como se forma a idéia do fenômeno? O conceito seria para nós um mistério, se não tivéssemos a capacidade de introspecção da percepção do próprio pensar. O conceito em si é algo imaterial, mas existe objetivamente como realidade mental. É uma atividade subjetiva a partir da realidade objetiva. O que se quer afirmar é o seguinte: Não é o pensar que produz conceitos, mas ele os encontra mais ou menos prontos, pois a outra metade da verdade se encontra nos fenômenos observados. O que acontece é que o processo que atua no pensar é o mesmo que permeia a natureza (no mineral, no vegetal, no animal e no ser humano). A “ideia” se manifesta em ambos: uma parte é percebida pela mente e a outra se manifesta no mundo físico. Mesmo em se tratando das pinturas, estas foram exteriorizadas pelo paciente e contam uma parte da sua história de vida. Por isso se denomina de intuição ou contemplação (segundo Goethe) essa capacidade de intuir, de captar o mundo das idéias (o mundo espiritual) presentes na natureza e nas cores pintadas pelo paciente.

Estas explanações iniciais foram necessárias, no sentido de mostrar o caminho científico que acessa o “pensar puro”, o reino das “ideias”. Chega-se à “tese ou conceito do fenômeno”, através do caminho científico mediato (mediante vários argumentos, chega-se à “ideia” ou diagnóstico da pintura). Portanto, quando se chega a este “diagnóstico”, subtende-se que o que se vê é a “imagem psicossomática” do paciente, com sua problemática de vida. Não se deve contentar com a “tese”, mas deve-se sempre retornar às “hipóteses”, para não se cristalizar idéias preconcebidas ou falsas, a respeito do paciente. Por isso se utiliza sempre a “ficha clínica médica”, como subsídio realístico do que “pretensiosamente” se processa a nível anímico, expresso nas cores.

Num caminho científico rotineiro, visa-se chegar à tese (ou conceito), que é a própria “ideia” do fenômeno (no nosso caso é o próprio resultado do “Diagnóstico Psicossomático através da Pintura”). No caminho dedutivo aristotélico, o mais importante não é a tese em si, mas o processo realizado, para se chegar à ela. Portanto, os argumentos mediatos são de importância vestibular, para efetuar as hipóteses dedutivas. Estas são as mais importantes. Após todo o processo de “observar”, “relatar intelectualmente o que se vê”, formular as “hipóteses dedutivas”, faz-se a leitura da ficha clínica, para poder entender melhor o que se passa por detrás das queixas clínicas, aparentemente desconexas. Portanto, o “diagnóstico” não se resume num conceito apenas, mas abrange toda a problemática da hipótese dedutiva.

3- A Imagem do Homem

Como o motivo do nosso estudo se baseia no ser humano, é preciso conhecer melhor o homem. Mas esta exposição se fará através da mesma metodologia que referenda este trabalho. Estas conclusões servirão de argumentos intelectivos durante a análise das pinturas. Começando pela morfologia, constata-se na cabeça, a forma abobadada, sendo que o osso situa-se externamente e o cérebro situa-se internamente (o osso está do lado de fora e a parte “mole” do lado de dentro). No outro pólo do organismo nota-se que esta “dinâmica” se inverte, pois nos membros tem-se os ossos por dentro e a musculatura por fora. Esta é uma primeira polaridade entre estas duas dinâmicas opostas, facilmente observável. Entre a característica “cranial” e os “membros”, tem-se o “tronco”, que se compõe de ripas de costelas, numa repetição “rítmica” (osso – músculo, osso – músculo).

Com relação à fisiologia, nota-se que, no pólo cranial tudo “entra”: luz, ar, comida e som. Essa dinâmica processual é “concentrante”, centripetal. No outro pólo do organismo, tudo “sai”: fezes, urina, espermatozóides, menstruação e odor. Essa dinâmica é “centrifugal”, pois aqui tudo é eliminado. Entre esses dois pólos, o cranial e o metabólico, tem-se o sistema que realiza o “ritmo”: coração e pulmão. Ou seja, ora processo “concentrante”, ora processo “centrifugal” (sístole – diástole, inspiração – expiração).

Agora podem-se nomear esses sistemas, após ter-se partido do geral e chegado à “ideia” da imagem do ser humano. Portanto, sistema neuro-sensorial (SNS), sistema rítmico (SR) e sistema metabólico (SM). Vamos referir daqui para frente com essas abreviaturas: SNS, SR e SM.

Vamos aprofundar mais um pouco na nossa pesquisa dedutiva. Sabe-se que o ser humano é constituído de matéria, de substância química, que compõe o corpo físico. O mesmo se vê nos animais, vegetais e minerais. Essa parte “morta” é uma característica dos minerais. Observa-se que por detrás da materialidade existe uma vitalidade, que é tanto maior quanto mais primitivo é o organismo. Essa vitalidade é muito expressiva nos vegetais e animais, sendo que dentre estes é mais evidente na planta, que tem desenvolvimento exuberante ou nos animais inferiores, os quais, por exemplo uma lagartixa ao perder a cauda, consegue reproduzi-la. Na criança, a vitalidade está com toda sua potencialidade, mas vai decaindo à medida que avançam os anos. Invertem-se então os fatores: o que era de maior vitalidade com menor nível de consciência, caminha-se para “menor vitalidade com maior nível de consciência”, na velhice. Portanto, existe um corpo vital (ou corpo etérico), que no passado era denominado de Ka pelos antigos médicos egípcios, de treptikón pelos gregos e arquem por Paracelsus. O corpo etérico funciona como um modelador, que plasma a matéria a partir de suas necessidades. A substância inorgânica, no mundo lá fora, pode ter até a mesma composição, como se tem dentro de nosso organismo, mas dentro do ser humano a substância tem que se submeter a certos parâmetros traçados pelo corpo etérico. Tanto é assim que, apesar de a “proteína” ter a mesma composição em todos os seres, com carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, cada ser humano plasma a sua proteína individual.

Para subirmos um degrau evolutivo, para o animal, ocorre uma guinada enorme, pois aqui já prevalece o processo oxidativo no metabolismo, necessário para o desenvolvimento da consciência e da vigília. No vegetal prevalece o processo redutivo do metabolismo: ele inspira dióxido de carbono (CO2) e expele oxigênio (O2). É claro que se tem anabolismo e catabolismo no animal, mas prevalece este último, como processo necessário de destruição (catabolismo) da matéria, para desenvolver uma vida consciente, de vigília. Por isso o animal abriga uma alma, porque assim pode desenvolver uma “sabedoria” dentro de si, que se denomina de instinto animal .

O ser humano já é um ser mais complexo, pois além das características citadas anteriormente, representa a culminação da natureza, da meta Divina. Por isso possui corpo físico, corpo etérico, alma e espírito. Ou poderia se denominar de corpo físico, vitalidade, psiquê e Eu. O homem é, primariamente, um ser espiritual que, através do seu Eu, elabora o seu corpo físico desde o período embrionário. O Eu consegue elaborar e estruturar o corpo para desempenhar as funções conforme as suas necessidades. Por isso o homem não é produto da hereditariedade, nem do meio ambiente; ele apenas utiliza a herança e o mundo, como “materiais” para manifestação da sua individualidade, do seu Eu. A alma ou psiquê, é sede dos pensamentos triviais, sentimentos de toda ordem e do atuar corporal; por isso se diz que na alma têm-se o: Pensar – Sentir – Atuar. Por trás de tudo se é o que se é (Self ou espírito ou Eu).

2a PARTE

O DIAGNÓSTICO

4- Indicações

Após esta extensa explicação, vamos entrar no tema propriamente dito. A indicação para o paciente se submeter a este “Psicodiagnóstico Artístico” se faz necessário para aqueles casos em que o paciente mostra um lado “psíquico” que não é bem visualizado pelo médico durante a consulta clínica. Ou seja, se durante a consulta médica, o paciente revela um aspecto do seu íntimo que não é abordado pelos exames clínicos rotineiros. Por exemplo: depressão, síndrome do pânico, angústia, hiperatividade, neuroses orgânicas, somatizações, déficit de atenção, etc., até alguns casos considerados inteiramente corporais, como as patologias auto-imunes (colagenoses), etc., em que o paciente demonstra falta de entrosamento psicossomático.

O paciente recebe, então, do médico, durante a consulta, a indicação para se submeter a este “diagnóstico anímico”. Por isso é mais um recurso do médico antroposófico, o qual estuda e necessita de mais parâmetros para se entender a complexidade humana, do que só os exames rotineiros clássicos. Portanto, no nosso caso, por questão de barateamento do “diagnóstico” ao paciente, em um dia pré-estabelecido, vários pacientes reúnem-se num mesmo horário na nossa Clínica, na sala do Psicólogo responsável por este procedimento.

5- A Pintura realizada pelos Pacientes

Como a realização das pinturas abre possibilidades para futuros tratamentos terapêuticos, como se comentará a seguir, torna-se essencial, desde o momento de chegada do paciente, a criação de uma “escuta ativa” pelo terapeuta, que permita o desenvolvimento deste processo. Nesse sentido são passadas as instruções elementares para a pintura. São estas:

  • Objetivo terapêutico (e não estético e/ou artístico) do processo; por isso o paciente deve se sentir livre e à vontade para executar as três pinturas.
  • Uso das três cores e suas geminadas (azul, amarelo e vermelho), sendo portanto seis cores da Stokmar (e/ou outra semelhante, de mesma qualidade). Pincel número 18.
  • Uso de folhas A3, molhadas.
  • Tempo de duração (uma hora).
  • Temas livres (objetivos ou abstratos) das pinturas.
  • Preencher toda folha.

O paciente inicia a pintura. O ambiente de silêncio é essencial no desenrolar da atividade. Terminado o primeiro quadro, o paciente observa-o à distância e decide se quer alterar algum elemento. Esta distância do quadro é fundamental para se criar um espaço de “observação e contemplação”, inerentes ao processo da pintura.

Passa-se ao segundo quadro. Após o término deste, o paciente dedica-se a observar a primeira e a segunda pinturas, em seqüência. É, neste “momento contemplativo” que surge um espaço interior para o terceiro e último quadro. Terminado o processo, o paciente observa as três pinturas, em seqüência, por alguns instantes, finalizando-se esta primeira atividade diagnóstica. O paciente vai para casa, a espera do retorno, para receber o “diagnóstico”.

6- Metodologia da Análise

Num segundo passo, todos os terapeutas, médicos e psicólogos reúnem-se diante dos três quadros de cada paciente para a psico-análise. Realizam-se os três passos científicos dedutivos, relatados acima. Observam em “silêncio” os três quadros, colocados num cavalete ou na parede, sendo o primeiro em cima, embaixo o segundo e por último o terceiro quadro. Em seguida, cada um da equipe relata o que vê, como cores, tonalidades, mistura de tintas, traços, preenchimento ou não de todo papel, etc. Nesse processo de “relatar intelectualmente o que se vê”, já começa a nascer dentro do pensamento a “ideia” do que significa aquilo, do que se passa dentro daquela pessoa.

Necessita-se ter como referência, a “imagem do homem trimembrado”, como se comentou acima, que servirá como fator de compreensão das pinturas. O paciente reflete essa imagem de si nas pinturas. Nesse sentido, nos quadros se expressam essa imagem trimembrada (ou às vezes quatrimembrada, quando se diz que o 4º elemento corresponde ao Eu, ao espírito). A pintura é, portanto, subdividida em três partes, conforme ocorrem com os nossos três sistemas orgânicos (SNS, SR e SM), normalmente de cima para baixo. Após o relato intelectivo das cores, performance dos motivos, etc., procura-se relacionar a trimembração com o que se vê. Quando o paciente faz uma “moldura”, esta expressa o SNS, como se necessita-se de uma tela menor, a qual mostra um “cerceamento intelectivo”. Quando o paciente faz um círculo concêntrico expressa de dentro para fora o SNS, a periferia do quadro o SM e a faixa intermediária o SR. Muitas vezes imagens grotescas, bizarras e animalescas aparecem, sem a consciência do autor. E, assim por diante (vide exemplos dos casos clínicos). Deve-se ressaltar aqui, que todo este trabalho diagnóstico deve estar revestido de um profundo sentimento “moral”, pois se está adentrando no santuário íntimo da individualidade.

Caso algum membro do grupo discorde da conclusão, deve apresentar a sua “hipótese”, com argumentos plausíveis, a qual passa a ser deferida ou não pelo grupo. O que referenda a aceitabilidade da hipótese é a “argumentação mediata” e que seja aceita pelo grupo multidisciplinar. Após os três relatos do corpo clínico-terapêutico, procura-se fazer uma “hipótese diagnóstica” do paciente. Novamente, tecem-se os argumentos necessários para referendar as hipóteses dedutivas. Em seguida, faz-se um procedimento indutivo: o médico lê a ficha clínica.

O interessante é que a “ideia” nasce no pensamento, após todo esse processo intelectivo (a ideia simplesmente “brota” no pensar). Depois que se tem a “ideia” do total, desce-se de novo ao “intelecto”, como procedimento indutivo (experimentação), no sentido de desenvolver análises mais detalhadas (observar melhor as disposições das cores, etc.). Visa-se sempre confrontar as análises subjetivas (as conclusões), no sentido de aventar “hipóteses verossímeis” de como a alma está permeando a corporeidade. Ou seja, a ficha clínica serve de “argumentação fisiológica” para a “demonstração da pintura”. Por isso, segundo Goethe, Fisiologia significa: “O conjunto orgânico sob forças do espírito”. Estes dois aspectos (fisiológico e o espírito) estão unidos em Goethe num “monismo” impressionantemente aristotélico.

7- O Retorno do Paciente

Finalmente é marcado o retorno dos pacientes, para receberem as respostas do “Diagnóstico Psicossomático através da Pintura”, do psicólogo ou terapeuta. Os pacientes reúnem-se em grupo de até quatro pessoas. Isso permite que diferentes aspectos sejam vistos por cada integrante. Este retorno tem a duração de duas horas, sendo que a primeira parte, de uma hora, é feita em conjunto com o grupo todo. A outra fase é individual. Inicialmente são feitas abordagens básicas em relação ao sigilo, ao objetivo terapêutico (e não artístico) e à conduta diante do aprofundamento no diagnóstico. Seguem-se exposições esclarecedoras sobre a trimembração humana, sua relação com o Eu e as patologias advindas de cada pólo da entidade trimembrada: tendência “esclerosante” quando se exacerba o pólo do SNS e tendência “inflamatória” quando se exacerba o pólo do SM. A exposição é feita com a participação ativa dos pacientes, que contribuem na construção do painel expositivo.

Após este preâmbulo informativo, os pacientes situam-se em semicírculo, tendo à frente o tripé, onde serão colocados os três quadros, de cada paciente, verticalmente, de cima para baixo. É impressionante observar que as pinturas favorecem a criação de um ambiente de confiança, respeito e veneração. O elo de ligação que se forma desde o momento inicial da pintura até o retorno é de fundamental importância, pois assim se cria um espaço para o futuro tratamento.

Três pinturas de um paciente estão dispostas no cavalete, enquanto um outro paciente faz o relato “intelectivo” do que se vê. O autor das pinturas apenas ouve em silêncio os comentários dos seus quadros. Como as imagens pintadas acompanham internamente o paciente, elas começam a tomar “novo colorido”, com a conscientização dos processos trimembrados psicossomáticos.

O relato não deve conter impressões e sentimentos pessoais, mas limitar-se à descrição objetiva, fundamentada nas cores e nas formas. Entre as observações estão qualidade das cores, criação e adequação das formas, preenchimento do papel e intensidade ao pintar, até se chegar à “trimembração anímica”. Este retorno já tem o efeito profundamente terapêutico, pois a confrontação com sua obra permite levantar questões terapêuticas que, mais tarde, serão trabalhadas. O próprio autor daquelas pinturas inicia um processo de observação e distanciamento da própria obra, no sentido de visualizar como a sua alma está se manifestando no palco da existência. Ao final da descrição das três pinturas, os participantes trocam breves impressões sobre os elementos da trimembração. E, em seguida, os mesmos passos são desenvolvidos com os outros integrantes do grupo.

Após feito o processo com todo o grupo, parte-se para o aprofundamento individual. Enquanto os outros esperam fora da sala, o psicólogo ou terapeuta orienta, individualmente, os passos a seguir. É explicado que as sugestões terapêuticas foram elaboradas pela equipe multidisciplinar do corpo clínico-terapêutico. Finalmente, não só os quadros serviram como “espelhamento” para o próprio paciente compreender a sua problemática psicossomática, como cada um sai com as orientações necessárias de como proceder daí para frente, sejam indicações para terapia artística, para euritmia curativa, para “os Doze Passos” (capítulo 10), massagem rítmica, ginástica, leitura, retorno ao estudo, jardinagem, etc.

8- Quadros Clínicos

Serão apresentados três casos clínicos, com suas respectivas pinturas. Na primeira página as três pinturas e na seguinte, os procedimentos metodológicos: relatos, hipóteses diagnósticas, tese (diagnóstico psicossomático), confrontação com a ficha clínica, indicações terapêuticas.

Análise do 1o Paciente

Relato de um membro da equipe – No primeiro quadro observa-se na parte superior, uma área delimitada por uma linha azul. Essa área é maior à esquerda e vai afunilando à direita. Dentro desse espaço existem traços em azul, sendo mais intenso à esquerda e mais leve à direita. Em baixo, observa-se outra área, preenchida com pinceladas grandes em laranja à esquerda e mais à direita, pinceladas menores avermelhadas. Na parte de baixo, uma outra área com pinceladas verticais em azul escuro e algumas formas em verde claro. No todo, existem grandes espaços vazios, deixando transparecer o fundo branco.

Trimembração – em cima o SNS, na faixa do meio o SR e embaixo o SM.

Outro relato – No segundo quadro, na parte superior, vejo uma faixa em azul, vazada. É mais intenso à esquerda e vai clareando à medida que caminha à direita. À esquerda, uma forma elipsóide inclinada em preto, dentro dessa faixa. Embaixo, uma área em branco (sem pintura), com pinceladas verticais em vermelho, verde e amarelo, encimadas com pequenas formas irregulares ovaladas. No canto direito, um desenho retangular, sendo em cima deste, com um outro retângulo duplamente vazado, em azul. No corpo dessa forma maior, dois outros retângulos verticais vazados e dois quadrados com traços no seu interior. Embaixo, à esquerda, traços verticais, em azul escuro, encimados com uma linha da mesma cor. Fechando na base, uma linha grossa em marrom.

Trimembração – A parte de cima os SNS, o meio o SR e a parte de baixo o SM.

Último relato – Na parte de cima, uma faixa grande, delimitada em baixo, com linhas azuis, que pega de ponta a ponta, sendo que no meio ela se projeta para baixo. Pinceladas em vermelho simbolizando “aves” que se situam dentro de espaços delimitados. Esses pássaros voam para a esquerda. Embaixo, uma faixa branca, que acompanha o declive da faixa inferior. Dentro desta faixa central, pequenas projeções verticais em vermelho, sendo que algumas apresentam em cima, pinceladas arredondas e outras apresentam bifurcações. E embaixo de tudo, duas faixas heterogêneas em marrom, as quais se confluem ao centro.

Trimembração – em cima no azul o SNS. A faixa branca com as flores o SR. O marrom o SM.

Hipótese Diagnóstica – O 1º quadro traduz o passado, o “pensar”. Mostra as formas fragmentadas, com muito espaço em branco, pois não preencheu toda o quadro. O SNS fracionado, sem uma unidade, sendo mais forte à esquerda e quase sumindo à direita. Talvez o “pensar” muito preso ao passado, mas todo fragmentado. O SR se projeta ao contrário, sendo mais acentuado à direita, mas as formas dentro dele se fragmentam à medida que caminham à direita. O SM apresenta algo pesado, evidenciando também o caráter fragmentado. Talvez não tenha bem lidado com a substancialidade, a proteína.

O 2º quadro traduz o “sentir”, o momento atual. Na parte superior, o “pensar atual” pesado à esquerda, que trás do passado o “sol preto”. (O “sol” traduz o Eu que habita o mundo espiritual). Vai enfraquecendo à medida que caminha para o futuro. O pensar vai enfraquecendo com o tempo. O sentir mostra-se frio e seco, com suas árvores vazias e esquálidas. A casa que faz parte do SR está vazada, sendo a parede esquerda grossa e a direita muito fina. (A casa traduz o “Eu encarnado”, o centro da personalidade). Mas a casa está fria, sem calor. O vermelho está do lado de fora, nas manifestações anímicas do sentir (sensações do mundo). E o SM está travado, frio, árido, vazado.

O 3º quadro traduz o futuro, o atuar, a vontade. No pensar, há fragmentações, com os lampejos pensamentais voltados para o passado, na representação das aves voando para a esquerda. O sentir fica “vazio”, com poucas manifestações de calor com as plantinhas em vermelho. Inclusive estas à direita se subdividem em duas, mostrando o caráter polar do sentimento (simpatia e antipatia). O SM mostra-se duro e pesado, no marrom terrenal. Essa fenda central delimita duas áreas, sendo a esquerda o marrom ficou mais molhado e à direita mais seco e áspero, denotando que pode levar para o futuro mais aridez no SM.

Ficha Clínica é lida pelo médico. I.R.M., sexo feminino, nascida em 2.8.43, solteira, contadora. 1a consulta em 22.3.01, com Artrite Reumatóide, há 9 anos. Após dois anos de tratamento antroposófico, ainda continuam as dores nas articulações e mal estar geral. Está em uso de medicações alopática e antroposófica.

Diagnóstico Psicossomático (a Tese) – Reafirmam-se os argumentos da hipótese dedutiva.

Indicações – Foi sugerida pela equipe multidisciplinas, fazer a “Biografia” no sentido de organizar melhor essas “fragmentações psíquicas”. E a Euritmia Curativa no sentido de modelar o gestual dentro das atuações psicossomáticas. É preciso “casar” melhor com o corpo, com as proteínas.

Análise do 2o Paciente

Relato de um membro do grupo – No primeiro quadro vejo um azul heterogêneo envolvendo a parte superior do quadro, sendo que do lado esquerdo, a margem é mais larga e na direita, apenas uma fita muito fina. No canto superior esquerdo, um círculo com irradiações em amarelo-ouro. À direita, duas formas em branco, ovaladas. No centro, vazado, quatro hastes verticais em vermelho, com pequenas ramificações transversais, encimadas com pequenas esferas amareladas. Embaixo, uma faixa fina horizontal em vermelho.

Trimembração – o azul o SNS, o centro o SR e o vermelho o SM.

Segundo relato – O segundo quadro apresenta um azul bem suave em cima, com várias formas espiculadas em branco. No canto superior esquerdo, uma forma triangular amarelo-ouro. Há uma faixa larga, logo abaixo, vazada, em branco. Na parte de baixo, uma faixa larga em azul mais forte, de coloração heterogênea.

Trimembração – em cima o SNS, o vazado o SR e o azul de baixo o SM.

Terceiro relato – O último quadro apresenta uma faixa pequena em cima, com uma imagem circular amarela no canto superior esquerdo. No centro uma grande área em branco, mas com um motivo interno: hastes azuladas verticais e ramificações laterais, inclinadas à direita. Embaixo, uma pequena faixa em verde, sendo que as hastes saem desta faixa.

Trimembração – O azul o SNS, a grande parte central o SR e o verde inferior o SM.

Hipótese Diagnóstica – O 1º quadro mostra o “passado”, porque geralmente o paciente trás o motivo de casa, desde a indicação feita pelo médico assistente. Há necessidade de colocar o azul (SNS) cerceando toda a parte superior e as laterais. O sol brilha no ângulo esquerdo, como força (do Eu) que vem do “passado”. Ele pode trazer um cabedal pensamental que vem do passado. A parte central mostra-se um pouco vazia, mas é preenchida pela flores franzinas. Talvez o sentimento um pouco empobrecido (ou carência). A parte de baixo, o metabolismo mostra-se bem “vivo e caloroso”, apesar de preencher uma pequena faixa.

O 2º quadro corresponde ao “presente” e mostra o SNS totalmente diferente do de cima. O azul é bem fraco, quase transparente, com pequenas estrelas no interior, além do sol que ficou escondido no canto esquerdo. A faixa central do sentimento ficou totalmente em branco, sem nada para se expressar. “Uma vida sentimental vazia, no momento presente?” O SM ficou engrandecido, mas agora com a cor azul. Um SM pesado, heterogêneo. Talvez sobrecarga do metabolismo.

O 3º quadro corresponde ao “futuro” e volta a repetir o “passado”. (Muitas vezes é assim que se encontra: o terceiro repetindo o primeiro). O azul é harmônico, apenas abraça a parte de baixo, sendo que o sol está bonito no seu canto esquerdo (que vem do passado). A enorme faixa em branco continua, só que mais fechado com a vegetação. A faixa de baixo é pequena. O metabolismo tornou-se a ficar reduzido. Talvez um metabolismo que venha a ficar carente na sua função digestiva.

Ficha Clínica – é lida pelo médico: D.C.S., sexo feminino, nascida em 4.4.77, solteira, técnica de enfermagem. Depressão por perda do parceiro. Cefaléia, hipotensão arterial (90 x 60), cólica menstrual, queda de cabelo e insônia. Colite, (3 infeções intestinais recentes), 2 a 3 evacuações/dia.

Diagnóstico Psicossomático (a Tese) – Após a ficha, pode-se entender melhor o que se passa por detrás das queixas clínicas, aparentemente desconexas. O SNS é bem evidente no 1o quadro, talvez numa tentativa de cercear o SR vazado (depressivo). O SM é bem pequeno, mas “vermelho”, o que caracteriza o “processo inflamatório”. No 2o quadro fica mais evidente o caráter “depressivo” no SR vazio. Aí o SM se mostra avantajado, escuro e heterogêneo. No último quadro o SR é preenchido com “motivos”, talvez numa tentativa para preencher o “vazio da alma”. O SM volta a ficar pequeno, quase atrofiado. Portanto, a “colite” pode ser o componente secundário: o psiquismo (sentimento) parece se mostrar mais relevante. Em todos os quadros, o sol está presente, como “presença espiritual” por detrás de tudo.

Indicações – Foi sugerida fazer euritmia curativa, para atuar melhor psiquicamente no próprio corpo. Leitura: livros da Antroposofia, para trabalhar melhor o plano mental e espiritual. Uma psicologia com a própria pintura (Os Doze Passos), para trabalhar melhor o lado sentimental.

Análise do 3o Paciente

Relato de um membro da equipe: No primeiro quadro eu vejo uma grande faixa superior em azul, com pinceladas horizontais, heterogêneas., sendo mais escuro em cima e mais claro embaixo. Embaixo, um verde, com pinceladas também horizontais, sendo em cima mais escuro e na margem inferior mais claro. Uma fina faixa, entre as duas cores, em branco. Entre as duas cores, uma imagem em amarelo, tendo ao centro um pequeno círculo e sete radiações. Uma haste vertical em verde, com duas ramificações.

Trimembração – o azul o SNS, a flor o SR e o verde o SM.

Segundo relato – No segundo quadro vê-se na parte superior um azul, mais intenso na parte de baixo e mais fraco em cima. Embaixo, três promontórios em verde.

Trimembração (ou bimembração) – o azul o SNS e o verde o SM. O SR não apareceu.

Terceiro relato – Na margem superior vê-se um azul claro. Depois, duas imagens centrais, sendo que na parte superior observa-se a cor verde, com pequenos pontos amarelos. À esquerda o verde é mais intenso e à direita, o verde é mais claro. Depois, duas colunas verticais em marrom, sendo que nas suas partes superiores, estas se subdividem: à esquerda essa divisão é completa e à direita, apenas um traço em branco sugere isso. Essas colunas achatam-se na margem inferior. O azul preenche superiormente essas colunas e na parte de baixo, uma faixa em verde lateralmente e amarelo centralmente, com pontos amarelos.

Trimembração – o azul o SNS, as árvores o SR e a parte de baixo o SM.

Hipótese Diagnóstica – o 1º quadro representa o passado e este se mostra harmonicamente bem estruturado nestes três sistemas orgânicos. Mas inspira um vazio, algo desértico, “depressivo”.

O 2º quadro parece que reforçou essa tendência desértica. Não se vê o SR. O sentimento parece que foi expulso do quadro. Há apenas um confronto do SNS com o SM. O SM se subdivide para barrar o SNS.

O 3º quadro retorna o motivo central, só que agora vem agigantado e subdividido em dois. A árvore da esquerda é mais colorida, traduzindo que o sentimento do passado tem mais força. A base, o chão, o SM, está fraco, pois dilui-se no centro.

Ficha clínica – É lida pelo médico. Paciente V.L.M.E., sexo feminino, nascida em 22.2.50, solteira, professora. Alergia, sinusite, cansaço, dispepsia, flatulência, constipação, cólica abdominal, etc. Biópsia do íleo em 24.1.02 – processo ulceroso (colite). RX 30.11.99 – espessamento do seio maxilar direito. Densitometria óssea em 12.2.99 – osteopenia. Cirurgias: tímpano esquerdo e fissura anal.

Diagnóstico Psicossomático (a Tese) – Retornam-se aos argumentos mediatos. Muitas vezes, repetem-se esses dados, como meios de referendar o caminho realizado. O SNS é bem marcante, evidenciando predominância pensamental. O SM também fica bem evidente, o que poderia justificar o problema “digestivo” e da “sinusite” (de origem metabólica). O SR fica reduzido à “flor” solitária e ausência na 2a pintura. Mas retorna no última pintura, já subdividido em dois motivos (divisão sentimental ou tendência conflituosa?).

Indicações – Foi sugerida fazer Euritmia Curativa, no sentido de trabalhar melhor a alma no corpo e a Psicoterapia dos “Doze Passos”. Foram sugeridos livros antroposóficos, para dar alicerce pensamental ao vazio existencial. Fazer trabalhos manuais, exercícios, esportes, etc.

3a PARTE

SUBSÍDIOS para TERAPIAS

10- Os Doze Passos

O processo terapêutico consiste na elaboração de doze pinturas (por isso Doze Passos), a partir da visão trimembrada do ser humano. Inicialmente, o paciente faz “três pinturas diagnósticas”, tal como supracitado. A primeira pintura está relacionada com o SNS (ou pensar), ligando-se mais com o consciente. Já a segunda pintura, relacionada ao SR (ou sentir), traduz-se em uma vivência mais subconsciente. E, por último, a terceira pintura liga-se com maior ênfase ao SM (ou atuar), espelhando o inconsciente. A trimembração pode ser vista de forma global nas três pinturas ou mesmo em cada uma separadamente.

Tendo como ponto de partida as três pinturas analisadas no “Diagnóstico Psicossomático”, segue-se para a segunda etapa do processo, a parte “terapêutica”, que consistirá na realização das demais nove pinturas. Parte-se do primeiro quadro (relacionado com o SNS) para se desenvolver três pinturas terapêuticas, ligadas ao passado do paciente. A primeira pintura baseia-se em “um fato passado” (o pensar), a segunda pintura em “um sentimento passado” (o sentir) e a terceira pintura em “um ato passado” (o agir ou metamorfose de alguma das pinturas anteriores). Cada quadro é trabalhado em conjunto com a Euritmia Curativa, a qual possibilita um aprofundamento do processo, com a inserção do movimento relacionado à pintura e exercícios adequados ao quadro clínico do paciente.

Seguem-se, da mesma maneira, nos dois outros âmbitos restantes (SR e SM). As três pinturas elaboradas a partir do segundo quadro têm ligação com o momento presente do paciente. A primeira pintura baseia-se em “um fato atual” (o pensar), a segunda pintura em “um sentimento atual” (o sentir) e a terceira pintura em “um ato atual” (o agir ou metamorfose de alguma das pinturas anteriores). E as três últimas, feitas a partir da terceira pintura, relacionam-se com o futuro do paciente. A primeira baseia-se em “um fato a ser realizado” (o pensar), a segunda pintura em “um sentimento a ser conquistado” (o sentir) e a terceira pintura em “um ato a ser concretizado” (o agir ou metamorfose de alguma das pinturas anteriores). Veja esquema a seguir.

9- Pinturas diagnósticas dos Doze Passos

Os quadros podem ser dispostos de várias maneiras, para que novos parâmetros sejam percebidos. Pode-se, inclusive, desenvolver observações goetheanísticas junto com o paciente, o que torna o processo vivo e consciente. O método sempre será terapêutico, mas poderá ser realizado em vários níveis de abordagem – inclusive pedagógico/terapêutica, levando-se em conta a idade do paciente (geralmente são para os jovens que esta terapia está indicada) e os seus diferentes aspectos psico-pedagógicos fundamentados na Antroposofia.

O processo possibilita ao paciente trabalhar questões internas de forma terapêutico-artística, levando a vivências providas de alto conteúdo transformador. Os “Doze Passos” são realizados na Clínica Vivenda Sant’Anna com acompanhamento médico com excelentes resultados obtidos junto aos pacientes.

11- Conclusão

“O Diagnóstico Psicossomático através da Pintura” está sendo realizado desde o ano 2000, por esta equipe multidisciplicar (um médico, um psicólogo e uma euritmista curativa), desta Clínica. Serve de exemplo de como se deve conjugar “ato terapêutico”, ao simplesmente “ato médico”. A metodologia científica adotada é a Dedutiva Goetheanístico-Steineriana.

O “Diagnóstico Psicossomático através da Pintura” abre uma porta para a compreensão da alma (psiquê) dentro da complexidade orgânica. Além disso serve de subsídio a todos os terapeutas envolvidos na “vontade de curar”, a partir da “trimembração do organismo humano”. O médico começa a entender o “porquê” da queixa subjetiva do paciente, o qual se esconde atrás de sintomas. O psicólogo trabalha com essas forças interiores, no sentido de desenvolver uma postura moral perante valores maiores. O euritmista curativo conscientiza essas forças dentro da fisiologia e dá um sentido novo às posturas plásticas nascidas do Eu. O terapeuta artístico pode conduzir melhor o processo de “cura anímica”, através da arte. E o paciente confronta-se consigo mesmo, através das suas pinturas, no sentido de conscientização destas forças anímicas presentes em seu interior. Estas tornam-se visíveis através da compreensão das cores e servem de subsídios para “tomar a vida nas próprias mãos”.

O paciente é acolhido pela consciência de trabalho conjunto entre médicos e terapeutas. Esse acolhimento irá refletir na confiança e no comprometimento com os processos terapêuticos nascidos deste diagnóstico da pintura. Essa disposição interna do paciente já corresponde, de antemão, em grande parte ao longo caminho a ser trilhado. Ou seja, o índice de aceitabilidade em participar do processo de auto-cura é muito grande, após o paciente tomar contato com a sua própria pintura. Dessa maneira, os trabalhos dos terapeutas têm sido muito profícuos, nesta Clínica, com alto índice de continuidade ao tratamento.

12- Summary

The “psychosomatic diagnosis by painting” has been made since year 2000, by this Clinic team (one physician, one psychologist and one curative eurythmist). It’s an example of how we have to co-ordinate “therapeutics’ act” to “physician’s act” simply. The scientific methodology used was the “Deductive Goetheanistic-Steinerianisch”.

The “phychosomatic diagnosis by painting” open a door to the soul’s comprehension insid organic complexity, as we saw. Besides this, it attends on subsidy for all therapists involved in the “intention of cure” seeing the “trimembration of human organism”. The physician begins to understand the “why” of patient’s subjective complaint, wich is hidden behind symptoms.

The psycologist works with the inner force in the sense of develop one moral posture in front of best values. The curative eurythmist makes this force conscious inside phisiology and gives another sense to the plastic posture of the self. The artistic therapist can conduce better the process of “animic cure” by the art. And the patient confront to himself through his painting, in the sense of make animic forces, presents in his inner side, conscious. These forces become visible by the comprehension of colors and attend on subsidy to “take life on his own hands”.

The patient is shelter by the consciense of combined work between physician and therapists. This shelter will reflect on confidence and in the engagement with the therapeutics process, born in the diagnosis of painting. This patient’s inner inclination correspond, beforehand, in great deal, to the long way that he has to tread out. So, the acceptance in co-operate in the self-cure process is very high, after the contact between the patient and his own painting. In this way the therapists’ works has been advantageous, with high index of hold on treatment in this Clinic.

Notas e Referências

GOETHE, J.W. von. Teoría de la Naturaleza. Madrid : Tecnos, 1997.

ARISTÓTELES. Metafísica, Madrid : Gredos. Livro XII30, 1998, p.603.

GOETHE, J.W. von. Idem, pg. 163.

MARQUES, A.J. Repensar a Ciência. Juiz de Fora : Rio Branco, 1996, p.87.

GOETHE, J.W. von. Idem, p.112.

A Terapia Artística teve início com a Dra Margarethe Hauschka, por volta de 1925, na Ita Wegman Klinik, em Arlesheim (Suiça). Foi adquirindo contornos definitivos, até se efetivar como Escola de Terapia Artística e Massagem, em Boll (Suiça). No Brasil, a Terapia Artística surgiu por iniciativa da Sra. Ada Jens (1921-1994), enfermeira e fisioterapeuta, que fez a formação com a Dra Hauschka. A Sra. Jens iniciou seus trabalhos na Clínica Tobias (SP), onde, por 20 anos foi responsável pela condução dessa atividade. Em 1986 criou o primeiro curso de Terapia Artística no Brasil. Nesse ano foi fundada a Aurora – Associação Brasileira dos Terapeutas Antroposóficos, para divulgar e promover tais atividades no país. Um curso para a formação de terapeutas artísticos, certificado pelo Goetheanum (Suiça), está sendo conduzido atualmente, em Florianópolis, na Clínica Vialis.

A Euritmia Curativa é uma terapia do movimento, elaborada por Rudolf Steiner, em 1921. Os movimentos eurítmicos baseiam-se na organização da fala humana (laringe, faringe, cavidade nasal e boca). Os sutis movimentos que acontecem nos órgãos da fala, modelam o fluxo de ar, que é expirado ao gerar os fonemas (unidade sonora da voz humana). Esse fluxo de ar modelado é transformado em movimento corporal, especialmente com os braços e as pernas. Os exercícios eurítmicos curativos agem principalmente em processos rítmicos do organismo, especialmente na circulação e na respiração. Agem estimulando, fortificando e regulando as funções de um órgão ou sistema de órgãos. Sua atuação restabelece a harmonia da constelação de forças físicas, anímicas e espirituais.

Quando o paciente é indicado para sessões de Euritmia Curativa, a partir das indicações do “Diagnóstico Psicossomático”, faz-se necessário, em primeiro lugar, fazer o “diagnóstico do movimento”, o qual complementa e referenda o que foi realizado na pintura. Em segundo lugar, através da observação das pinturas junto com o paciente, ressaltam-se a intensidade na tonalidade e disposição das cores, as quais servem como “imagem” na vivência da dinâmica do movimento, ou seja, no gesto de contração e expansão. Em terceiro lugar, como a euritmista curativa participa do grupo clínico-terapêutico, pode ver o paciente por três ângulos, através dos diagnósticos: clínico (com o relato pelo médico durante a pintura), da própria pintura e o seu próprio “diagnóstico pelo movimento”. Dessa forma aborda-se o paciente através de uma consciência trimembrada, ou seja: “o diagnóstico clínico” – o pensar, “o diagnóstico psicossomático da pintura” – o sentir e “o diagnóstico do movimento” – o querer.

Bibliografia

  • D’ERBOIS, L.C. Light, Darkness and Collour in Painting – Therapy. Suisse : The Goetheanum. 1993.
  • GOETHE, J.W. von. Teoría de la Naturaleza. Madrid : Tecnos, 1997.
  • HAUSCHKA, M. Terapia Artística, contribuições para uma atuação terapêutica – vol. I, II e III. São Paulo : Antroposófica. 1987.
  • HUSEMANN, F. e WOLFF, O A Imagem do hoem como base da arte médica: patologia e terapêutica. Vol. I, II e III. São Paulo : Resenha Universitária/ABT. 1984.
  • MARQUES, A. J. Metodologia em Ciência Dedutiva. Rio Branco : Juiz de Fora, 1999.

(1) Clínico geral com prática médica antroposófica

(2) Psicólogo, biógrafo e musicoterapeuta

(3) Euritmista curativa

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